Enquanto o mundo recordava o deicídio de Jerusalém e as atrocidades humanas contra um único Inocente, no Quênia outros 147 eram mortos apenas e tão somente por acreditarem na doutrina Daquele que, diante do seu martírio, ensinou o perdão como gesto de extremado amor: “Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem”. A forma seletiva como que se deu o massacre da última quinta-feira santa, numa universidade de Garissa, África, foi ao menos questionadora, pois separavam os cristãos dos demais, executando-os sem piedade alguma. – És cristão? Não mais… O clima de terror não combina com um ambiente símbolo da necessidade humana de aprendizado constante e busca de novos conhecimentos (é isso o que se espera adquirir numa faculdade). Esse retrocesso cultural e espiritual está nos derrotando. Não há como se entender ações de terrorismo em nome de uma fé e contra a fé alheia. Isso não cabe na atual conjectura de uma sociedade que acreditamos culta, sábia, dominadora de tantas ciências e avanços tecnológicos. Ou estamos voltando à Idade da Pedra, à Era das Cavernas? Não há outra explicação para as ações terroristas que se sucedem e se aviltam naquela região: a ignorância e o fanatismo tomaram conta! Minha grande preocupação está na parcela de responsabilidade que temos… Diga-se de passagem: não somos tão inocentes assim! Estamos colhendo os frutos da nossa negligência missionária. Tivemos mais de dois mil anos para “contagiar” o mundo com nossa fé, levando até os confins a proposta transformadora de Cristo e não o fizemos. Pelo menos “não” com o ardor, a alegria, o testemunho, o entusiasmo, a disponibilidade e a intensidade com que deveríamos evangelizar. Não o fizemos com o destemor de Cristo, de Pedro, de Paulo… Não o fizemos com a convicção da luz que somos num mundo em trevas; com a coragem de se diluir nas águas mais profundas como sal; com a certeza da capacidade que temos de fazer crescer a massa dos transformados pela fé, como fermento que qualifica o pão. Jesus é o Pão, o alimento essencial e único capaz de renovar nossas esperanças num mundo melhor para todos. O sangue dos inocentes lava a consciência de muitos. Por isso dizemos serem os mártires sementes de novos cristãos. Desde o martírio do Gólgota, o sangue de um único inocente vem devolvendo a vida a muitos, a vida plena e perfeita! A cada ofensa ou ato de profanação contra sua Igreja ou doutrina Ele se agiganta na divisão de sua fortaleza e graça. O Inferno não é tão poderoso assim! Sua portas se quedam com toda sua insignificância e mediocridade diante de um simples sussurrar da voz do injustiçado. Tornam-se ridículos os poderes que exibem com ostentação, mas que destroem o invólucro e não a alma dos que pensam eliminar. – És cristão? Que brilhe vossa luz diante dos homens! – é o que acabam provocando quando ferem de morte qualquer inocente. Aproximam-no mais rapidamente da glória, tanto no céu como na terra. “Seja feita a Vossa Vontade, assim na Terra como no Céu!” Pregar os Evangelhos não é disseminar uma doutrina, como nos acusam. Antes, é viver na prática gestos, atitudes, renúncias, sacrifícios, abnegações e despojamentos sem limites, tendo como meta única e exclusiva o Amor. Viver a vida de Cristo! Até mesmo quando a cruz lhes for apresentada. Aos jovens universitários de Garissa essa cruz estava oculta nos livros que tinham consigo. Livros que lhe forneciam uma nova visão da vida, do mundo… Uma coletânea de livros esclarecedores, libertadores, conscientizadores. Mas, dentre eles, o Livro dos livros, a Bíblia! E neste a Verdade é única: “Jesus fez ainda muitas outras coisas. Se fossem escritas, uma por uma, penso que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que se deveriam escrever” (Jo 21, 25). Na Universidade de Cristo seu vestibular exige uma única prova: dar a vida pelos irmãos. Não importa como, quando, nem onde. WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br