Meça as palavras, pois elas são como crianças que gritam, clamam, reclamam e conclamam. Se soubéssemos medir o poder da palavra passaríamos bons anos de nossa vida em silêncio. Ou seríamos incansáveis tagarelas para defender uma ideia, um ponto de vista, uma verdade. Nada há de mais poderoso entre os humanos que a força transformadora da palavra. Tanto para o bem quanto para o mal. Isso tudo sabemos por experiência pessoal, mas nossa prática é bem outra: poucos, pouquíssimos, conseguem frear suas línguas ou usar o poder destas para edificar, alertar, instruir, proclamar seus sentimentos e convicções. Já a criança diz o que pensa, exige, protesta e publica em alto e bom som o que seus corações ainda puros necessitam dizer. Dos lábios de uma criança transborda a verdade. Por que me valho desse tema – tão banal e desvalorizado – quando o fetiche da modernidade é hoje a língua solta? Quando a fofoca torna-se o centro dos debates corriqueiros e ganha ares tecnológicos via redes sociais? As revistas que mais vendem têm como prato a fofoca. Estar bem informado e ser centro das atenções numa rodinha de amigos é bisbilhotar e falar da vida alheia. É dela conhecer conquistas e derrotas, com quem se deita ou se levanta, como se veste e quanto gasta com supérfluos, com a estética corporal, com canalhices… É se postar diariamente para mensurar a própria vaidade, sem pudores, sem preconceitos. O importante são as “curtidas”, não o que dizem a respeito. Desde que seja você o alvo das atenções. A fofoca tornou-se uma medida de popularidade, um meio de auto-afirmação social, que sacia nossa sede de realização pessoal. Então, que falem de mim! Esse terrível conceito de vida social parece não ter limites. A fofoca moderna é instantânea, via satélite, globalizada. Para o indivíduo isolado nas massas seu instrumento para dizer que existe está ao alcance das mãos. Basta expor-se o mais que puder, deixando de lado qualquer sentimento de recato; jogar-se na língua do povo. Quem teme o ridículo está fadado ao ostracismo (palavrão clássico para designar aqueles que são esquecidos) e dificilmente alcançará o sucesso que o mundo hoje aplaude. O sucesso dos infelizes! Por que então medir palavras? Para inverter esse processo de degradação que hoje corrói as relações humanas. Se ao invés de apedrejar soubéssemos ponderar, falaríamos menos e agiríamos mais. A maior desgraça das relações humanas é a fofoca. Nada constrói e, ao contrário do que muitos pensam, não é trampolim para nossa ascensão social. Ela nos marca para sempre. Coloca em nossas testas o rótulo vermelho de um alerta público: pessoa inconfiável! Cuidado! Não se aproxime! Pode lhe ferir! Já aos ponderados há sempre portas abertas. Suas palavras e suas ações não possuem o ranço da discórdia, o lastro da maldade, a peja da delação, da traição. Quando abrem a boca, dizem verdades. Quando aconselham, sabem o que dizer. Têm o olhar sempre atento às necessidades do outro, não apenas às próprias. Conhecem o chão onde pisam e sabem onde querem chegar. A eles está reservado o verdadeiro sucesso, a vitória plena de seus objetivos. Deles pouco se fala, mas muito se respeita. Simplesmente porque no silêncio encontram a sabedoria de uma vida que sabe cuidar de si mesmo, sem com isso desqualificar aqueles que estão ao lado. E mais: a saliva mais pegajosa do mundo animal não é a daquele pássaro que abre seu bico para aprisionar moscas em suas mucosas e delas se alimentar. É a saliva daquele que mantêm sua boca aberta para empanturrar seu cérebro com as muriçocas pequenas e insignificantes que rondam a vida alheia. Esquecem do vespeiro com enormes varejeiras ao redor de sua fétida carcaça. WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br