Quando Lavoisier elaborou a Lei da Conservação das massas, não pensou que através dela fazia um enunciado vago, mas plausível, sobre a vida além da morte. Ou seja: “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Nesse ciclo contínuo estaria também a natureza humana? E sua alma, seu espírito ficariam fora, mesmo sendo esse o grande desejo humano de perpetuação? A fé não nos ensina ser o homem agente de transformação do mundo? E dotado de corpo e alma, matéria e espírito, portanto massa única de vida em transformação? Certamente o químico francês Antoine Lavoisier jamais se preocupou em dar uma dimensão maior à vida humana do que aquela que seus olhos viam e seus microscópios exploravam com o plausível da ciência. Nada além disso. No entanto, seu enunciado foi além: nada mais se cria, pois o Criador nos deu tudo pronto. Nada se perde, pois o ciclo de metamorfose das massas e matérias é um contínuo gerador de energias que se multiplicam, se somam ou se dividem permanentemente. Mas tudo se transforma. Tudo no mundo está em contínua ebulição e processo de mudanças, seja para mais ou menos, para melhor ou pior, para crescimento ou encolhimento, para ebulição ou enrijecimento… Até o ser humano! Até sua vida! Aqui é que são elas. Se participantes desse ciclo de vida que denominamos natureza, se nesse processo figuramos como o principal agente, ao qual Deus confiou a tarefa de guiar, disciplinar, gerenciar ou mesmo tirar proveito das transformações que se processam aos nossos olhos, sob nossos pés ou em nós mesmos; se somos os maiores e mais diretamente beneficiados com esse processo contínuo de mudanças da natureza que nos cerca, se a vida é a soma disso tudo e do qual temos o usufruto para nosso bem-estar e gozo contínuo, como negar outra dimensão de vida? Quando a afirmativa bíblica nos lembra o que somos, nada mais que pó, ao qual voltaremos, fala-nos tão somente da estrutura física que ocupamos. Há ainda a estrutura espiritual. Dessa nos ensina a fé. A mesma que nos deu a noção do pecado que nos trouxe a morte. “De fato, quem está morto, está livre do pecado. Mas, se estamos mortos com Cristo, acreditamos que também viveremos com ele, pois sabemos que Cristo, ressuscitado dos mortos, não morre mais; a morte já não tem poder sobre ele” (Rom 6, 7-9). Quem assim nos ensinou, o apóstolo Paulo, sabia muito bem do que estava falando, pois viveu na carne essa experiência de “transformação” em sua vida. Um dia exclamou: “Já não sou eu quem vive; é Cristo que vive em mim”. Perceber, pois, que “nada se perde” da natureza é também incluir nesse processo a vida espiritual. Sobre ela a morte não tem poder. Esta, portanto, nunca será o fim, mas o início, a volta à origem do ser espiritual que somos. Pedro bem definiu essa descoberta em sua vida, quando Cristo o deixou livre para escolher outros caminhos. “A quem iremos, Senhor! Só tu tens palavras de vida eterna”. Essa é a fonte da nossa esperança, o segredo que a Lei da Vida nos aponta como a mais preciosa descoberta dos que buscam um sentido para suas vidas. “Pois o pecado não os dominará nunca mais, porque vocês já não estão debaixo da Lei (da morte), mas da graça (da vida plena)” (Rom 6,14). Esse é o caminho que Jesus veio nos apontar. E confirmar: “Quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá”! WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br