Não há viva alma no mundo capaz de se isentar das limitações do pecado. Dentre eles, o maior é a prepotência. Um ser humano prepotente é a mais abjeta das criaturas, pois além de ignorar o cheiro nauseabundo que exala, se acha a mais perfeita de todas, isenta de qualquer pecado, santificada em vida por auto-definição e elevada aos altares da vaidade e do orgulho pessoal pelos próprios pés. Nada sente, nada teme. Pobre alma! Não vive, não respira o mesmo ar dos mortais, vagueia em suas ilusões de poder e glória. Falar em pecado tornou-se assunto proibido nas pautas da convivência social secularizada. Não é assunto politicamente correto. Imaginem: isso é trauma de recalcados, complexo de alienados, freio de fanáticos religiosos ou qualquer balela assim – afirmam os modernos psicoterapeutas, aqueles que se julgam condutores da moral humana (perdoem-me, mas há exceções). Mais adequado, quando muito, é taxar o assunto como desvio de conduta ou ato anti-social. Estamos deturpando uma questão religiosa para denominá-la de forma mais suave e aceitável, evitando possíveis danos ou invasão de privacidade do indivíduo enquanto dono do próprio nariz. Este que não cheira, mas fede. Porque o indivíduo que perde a noção entre o que é certo ou errado, fede tanto que suas narinas se tornam incapazes de identificar o próprio cheiro. Quem se lambuza na lama, no mel, na fossa de suas perversões ou prevaricações desconhece o ridículo que pratica. A auto-suficiência é a pior das inimigas e a maior característica do prepotente. Ele se basta. Ele determina os próprios limites – se é que estes de fato existam em sua consciência. Tudo o que faz tem justificativas, explicações mirabolantes, mesmo quando contrárias à opinião da maioria ou às leis que lhe apontam contravenções. Ele é a Lei. Ele dita as regras. Ele já não enxerga a caricatura de si próprio. Já não sente o cheiro das ruas, o grito dos que encobre com sua sombra ou asfixia com suas ações. Não importa! Ele é o Quando alguém se diz perfeito, isento de pecados, já comete e confessa o maior deles, a falta de humildade. O próprio papa Francisco, recentemente, se declarou pecador. Pedro verteu rios de lágrimas pela covardia de negar seu Mestre. O único homem verdadeiramente perfeito, livre dessa mácula humana, foi Cristo. Mesmo assim, sentiu na pele as armadilhas das tentações, mas venceu-as, uma a uma, com sabedoria e sintonia com o Pai. O que se pensar de nós, míseros pecadores, quando nem mais essa sintonia procuramos manter? Nem a necessidade de reconciliação nos preocupa mais. Nem mesmo a humildade de reconhecer nossas falhas e nos redimir das culpas e responsabilidades. De fato, a prepotência nos governa. É hoje a mantenedora dos poderes que pensamos possuir, dos privilégios que julgamos merecer. Esse é o pecado maior de uma nação que se distancia de Deus. Alma viva! Que bela definição para um pobre humano, esse que somos nós, submersos no dilema de viver, sobreviver, vencer o tempo que nos resta. Se alma, é porque algo de precioso ainda temos dentro de nós. Se viva, é porque palpita junto ao nosso coração de carne, mas há de continuar palpitando quando dele se libertar. Então a verdade há de vencer. Será ela a mais perfeita do universo ou uma mísera pecadora que nossa prepotência deixou morrer à míngua, sem os sentimentos da humildade que coroa a vida dos santos? Porque santo sei que não sou. Mesmo agora, quando ignoro as traves de meu olhar crítico sobre aqueles que se dizem melhores do que eu, para apontar um cisco que parece cegar um companheiro de outrora. Pior cego é aquele que não quer ver. Pior surdo… não quer ouvir. WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br