Em semana rica de assuntos, com boas e más notícias, qualquer escriba vacila em suas opções e acaba por escolher a esmo o assunto a discutir. Senão, vejamos alguns itens: errar na concordância verbal é tolerável, diz livro do MEC; vetado o kit homofóbico; assassino preso depois de onze anos; ministro diz que ganhar bem não é crime; conflito no campo faz três novas vítimas; estatuto da terra ameniza proteção às matas; três minutos e meio foi o tempo da queda para a morte (Air France, 31.05.2009 – 228 mortos) e, em meio a tudo, ex reaparece para livrar da saia justa sua sucessora… Como vemos, assunto não falta. Mas, no excesso destes corremos o risco da indiferença ou não aprofundamento, pois que lá fora a vida grita por ações e decisões imediatas. Vivemos num mundo onde qualquer cochilo pode representar mais que eventuais erros de concordância gramatical, apologia a opções sexuais, mirabolantes recursos contra as garras da lei, o milagre da multiplicação… por vinte, a semente dos mártires na seara conflitante de nossos campos sem lei, o tempo que nos resta nesta travessia e, – oh Pai Previdente! – o socorro que sempre nos chega na hora H. Então fiquemos com esse socorro. Não que as maracutaias humanas, suas fatalidades e pretensões acima dos princípios éticos e morais mereçam atenções divinas, mas fazem parte da história que escrevemos diariamente. Os fatos são reais, mas a história seria outra se ao menos pudéssemos buscar mais fidelidade à cartilha da vontade de Deus, essa que nunca admitirá erros de concordância ou meio termo complacente com nossas displicências; nem mesmo com o típico jeitinho que sempre encontramos para justificar nossa primária ignorância religiosa. Quando nossas leis criam barreiras contra determinado grupo social em favorecimento ou detrimento de outro, deixam sua imparcialidade e se tornam injustas. Alimentam a homofobia, medo entre iguais, em todos os aspectos. Já nos basta a triste invencionice da cota racial nas nossas universidades. Já é vergonhosa a morosidade dos nossos processos sociais, que prioriza a condenação aos menos favorecidos e empurra o mais possível julgamentos da classe elitista. Essa mesma que não se sacia com pouco e justifica seus lucros astronômicos como consequência natural dos postos privilegiados herdados pelo poder, que emana do povo. Pobre povo! Esse mesmo povo entrincheirado nos campos e matas, longe de suas origens, que ainda se arma de esperança na lida diária pela sobrevivência. Mas, quando levanta suas vozes em defesa dos recursos naturais donde extraem o mínimo para continuar vivendo, são brutalmente assassinados ou expulsos do chão que lhes dá sustento. O sangue dos mártires é semente, já diz nossa origem cristã. Impossível será drenar da terra a marca profunda de uma vida que tomba em sua defesa. Impossível sustar a fertilidade proporcionada pelos ideais de racionalidade, justiça e mais fraternidade entre os homens, quando no mínimo pode-se silenciar uma voz, não uma ideia, um princípio de fé. Onde nos leva esse voo cego? A uma travessia duvidosa, pois que nem todos temos clareza do ideal que buscamos nesta vida. A sociedade que tenta se equilibrar sem as bases da vontade de Deus, longe da fé e dos mandamentos que a regem, se perde facilmente nas diretrizes de sua própria governabilidade. Alça um voo sem destino. Farta-se com suas leis, mas se afunda facilmente na lógica gravitacional do menor esforço: tudo que sobe, desce. Pois triste é a Nação sem Deus. “Ficaste cheia, ficaste por demais pesada, no seio dos mares! Conduziram-te os teus remeiros até as grandes águas…” (Ez 27, 25-26). Nação assim nenhum governante, nem sequer o próprio Deus poderá reconduzir ao rumo de um futuro mais promissor. Porém, sempre haverá tempo de se corrigir uma rota, em conformidade com os ideais do Pai que nos criou. WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br