Responda rápido: Qual é o nome da capital indiana? Não se trata de um teste de conhecimentos geográficos, mas certamente seu subconsciente pensou em Calcutá. Errou. Esta é apenas uma grande metrópole e capital do Estado de Bengala, na Índia, o terceiro maior conglomerado de pessoas daquele pobre país asiático, com uma população estimada em mais de 15 milhões de pessoas só no entorno de Calcutá. Mas se lhe perguntasse quem foi Anjeze Gonxhe Bojaxhiu, você arriscaria uma resposta? Por intuição, acertou quem pensou em Madre Teresa de Calcutá. Era esse seu nome de batismo. Nascida em 1910, a missionária do século XX foi considerada a mulher mais respeitada e admirada do nosso passado recente, a ponto de ser aureolada com um Prêmio Nobel da Paz (1979) e recebida pelos maiores governantes, reis e princesas desse mundo. Seu nome religioso, aliado à cidade onde viveu, tornou-se uma referência não apenas pessoal, mas de uma obra cristã que nada tinha de extraordinária a não ser o dever da caridade, a maior e mais autêntica das virtudes humanas. Essa ação recebe agora o aval do reconhecimento maior da Igreja, com a canonização de Madre Teresa neste 04 de setembro de 2016, pelo Papa Francisco. Sem Teresa, Calcutá não existiria para o mundo e sem Calcutá o mundo não conheceria Teresa. Afinal, o que eleva uma pessoa aos altares cristãos? Não se trata de uma simples honraria ou mais um prêmio de consolação que o mundo lhe faz. Se considerarmos a história de vida dessa santa mulher nos surpreenderemos com muitas contradições e críticas. Sua opção radical a favor dos pobres deu-lhe “noites de escuridão espiritual”, pois sofria com o silêncio de Deus. Não raras vezes, questionava-se a respeito e sentia uma angústia muito grande por não conseguir amenizar um pouco mais as dores e sofrimentos do povo que ajudava. Para isso, fundou uma congregação (hoje com milhares de seguidoras no mundo todo) com o nome de Filhas da Caridade. Apesar de sua fisionomia sempre tensa, fazia da caridade a construtora da paz que sonhava, a partir de gestos de solidariedade, nunca de indiferença. E dizia sempre: “A paz começa com um sorriso”. Mas os seus, diante da miséria humana, eram raros… Sua vida e suas ações foram um ponto de interrogação para o mundo. Questionou a todos. Deixou-nos em 1997, vítima de um enfarto aos 87 anos. Calcutá parou para sepultar sua “santa”. Ao seu funeral acorreram não só os pobres, mas as maiores autoridades do mundo, que lhe prestaram homenagens tais quais os grandes estadistas e reis também recebem. Uma pobre e enigmática mulher era sepultada como modelo de vida para o mundo. Esse é o reconhecimento que a Igreja ora lhe presta. Sua beatificação, para nós brasileiros, tem um significado especial, pois o segundo milagre atribuído a ela – e que oficializa sua santidade – vem da cura de Marcilio Haddad, nosso conterrâneo cuja família apelou à intercessão de Teresa e dela obteve graça. A oração aos santos é como um apelo a amigos, mas a cura vem de Deus, bem o sabemos. “Nós precisamos dessa união íntima com Deus na vida cotidiana. E como poderemos obtê-la? Através da oração”, dizia a madre. Fica-nos mais esse modelo de vida cristã. A santidade nada mais é do que reconhecimento do poder de Deus em nossa vida, muitas vezes atribulada pela pobreza que nos cerca. Não é a insignificância do que somos que nos engrandece diante de Deus, mas a nossa disposição de serviço àqueles que margeiam nossa vida, os pobres, os pequeninos. “Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota”, ensinou-nos a santa das sarjetas de Calcutá. WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br