Uma grande aliada do organismo humano é a febre. Quando atinge o vermelho do termômetro é sinal de que algo não está bem em nosso corpo. Um aviso amigo. Da mesma forma, feridas mal cicatrizadas ou variações da pressão arterial. São instrumentos que temos para diagnosticar um problema maior. Assim também com nosso mundo exterior. Se os fatos que nos chegam e as perspectivas que temos apontam sempre para situações negativas é porque a hora exige mudanças, providências urgentes. O noticiário do mundo está febril. Quando um estudo científico traça dados nada animadores sobre o aquecimento global, com previsões catastróficas para os próximos cinquenta anos; quando governos totalitários usurpam o poder e exigem de seus povos a submissão a tudo – até ao corte de cabelo padronizado, à semelhança do seu suposto “líder”; quando leis amordaçam e censuram meios de comunicação com o intuito absurdo de preservar poderes; quando cristãos são mortos aos milhares em países que gritam o nome de Alá; quando a fome faz crescer o número de suas vítimas, enquanto a obesidade cresce e se torna problema de saúde pública em países que se dizem desenvolvidos; quando a dignidade do ser humano vale menos que a preservação de outras espécies… (um cachorro é melhor cuidado que muitas crianças), enfim, quando tudo isso vemos acontecer e continuamos indiferentes, fechados em nosso mundinho, passivos, alheios, um câncer sem proporções ronda a humanidade. A turma do oba oba nada disso enxerga. Mas o alerta está dado. A sirene do bom senso e da racionalidade coletiva nos obriga a procurar outros caminhos. Não há como continuar nesta estrada sem volta, se ainda nos resta um mínimo de amor próprio e respeito às gerações que nos sucederão. Nossos filhos e netos merecem um mundo melhor. Só Deus poderá ampará-los. Deus, porém, não age sozinho; depende de nós. Não falo de um credo em especial, mas da crença humana num poder maior, que transforma o conceito da justiça, da solidariedade, da corresponsabilidade humana com seus pares, seu mundo. O Dia do Planeta Terra aí está. O estrago está feito, mas ainda há tempo. O primeiro passo é assumirmos nossos próprios erros, as faltas da negligência coletiva, o desrespeito humano em todos os níveis: sociais, individuais, políticos e ecológicos. Os pecados humanos impedem sua felicidade. “Vamos como cegos apalpando o muro… Em pleno dia tropeçamos como ao crepúsculo… Esperamos o direito, mas em vão… Porque nossas faltas são inúmeras… temos consciência de nossos crimes, e conhecemos nossas iniquidades… nós nos afastamos de nosso Deus; só temos falado de opressão e de revolta… O direito é posto de lado, a justiça se mantêm afastada” (Is 59, 10…14). Se, já num passado tão remoto, a Bíblia nos falava dessa situação e chegamos até aqui, não há porque desistir. É verdade, no meio desse caminho um homem interferiu. A revelação de Cristo apontou outras diretrizes. Nem tudo está perdido, posto que Dele ouvimos verdades que ainda doem, mas aliviam nossas dores, aumentam nossa esperança. “Referi-vos estas coisas para que tenhais paz em mim. No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16,33). Essa é nossa esperança. A certeza de um mundo melhor, mais justo e humano, está proporcionalmente vinculada aos ensinamentos e à vivência da fé cristã. Aqui entra nossa responsabilidade missionária com esse mundo. Ou, como já afirmei em muitas ocasiões: Se o mundo vai mal é porque nós cristãos estamos péssimos. Não assumimos com verdadeiro ardor nossa responsabilidade evangelizadora, nossa missão de luz, sal, fermento na massa… A fé provoca as transformações que queremos. Ou seja: o remédio que o mundo precisa chama-se amor. Amor que é Deus. WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br