O fascínio de um milagre é sempre revestido pela áurea do mistério. Sua força de atração provoca a curiosidade humana. Multidões se mobilizam sempre que dele ouvem falar. O inexplicável exerce um magnetismo maior que a lógica, a ordem natural que governa o dia a dia da humanidade. Mas, quando esta se subverte, nos alvoroçamos quais formigas num formigueiro pisoteado. De certa forma, assim agimos diante de um milagre, um fato fora da lógica. Perturbamo-nos por isso. Foi o que aconteceu com os três reis magos. O estranho brilho de uma estrela os perturbou. Não era, porém, motivo para a radical aventura que os reuniu numa estrada, a caminho, atraídos por aquela luz. Nos dias de hoje seriam considerados dementes, visionários, loucos varridos de qualquer racionalidade. Arriscaram suas vidas e a própria dignidade seguindo uma luz, um fenômeno astrológico tão comum, que pouco ou nada acrescentaria à ignorância humana diante dos fenômenos naturais que nos rodeiam, assombram e emudecem diuturnamente. Nem um moderno astrofísico teria tamanha ingenuidade: seguir o rumo de uma estrela, se por a caminho do nada, do inatingível. Mesmo assim se arriscaram, porque conheciam as profecias e eram profundos observadores da ciência astrológica. Algo de anormal, maravilhosamente extraordinário, estava acontecendo. Aquela estrela tinha o brilho de um milagre. Um prenúncio de boa nova! Um sinal. O mesmo sinal que reveste os mistérios – inexplicáveis para os que se dizem sábios, mas bem nítidos e compreensíveis para os pequeninos, aqueles de coração puro. Um sinal de Deus. “Ora direis ouvir estrelas?” – questionaria o poeta. Por que não? Qualquer criança se encanta com o luzeiro celeste. Há um fascínio que beira o milagre, o mistério da criação. Quando observamos uma estrela no horizonte – e dela nos apossamos – penetramos um pouco mais nos mistérios de Deus. Imaginei-as, um dia, como anjos que Deus nos deu para velar a humanidade. Ou flores luminosas a decorar o manto azul da abóbada celestial. Quem nunca se deixou guiar por esses devaneios infantis? Seguir uma estrela, sondar o universo, os sinais que rodeiam nossa vida, nossa história, é descobrir Deus. Os magos, interpretando um sinal celeste, encontraram Jesus. Mais que um fato histórico – que mobilizou três representantes dos confins da terra e povos dispersos (também perturbou o poder dominante, o reinado de Herodes) – a estrela de Belém nos ensina a linguagem de Deus. Ele sempre nos falou e continua a nos falar através de sinais. Interpretá-los e adaptá-los em nossas vidas é faculdade dos sábios verdadeiros, é magia dos puros de coração. Essa arte denuncia a sensibilidade da alma humana. Estar atento aos sinais de Deus em nossas vidas, saber interpretá-los e conduzir nossos passos de acordo com suas revelações, é encontrar Jesus. Mais que isso, é colocar a seus pés um pouco das nossas posses – riquezas materiais e espirituais que o reino deste mundo nos permitiu conquistar – e fazer desse gesto um dízimo de amor e gratidão pelo milagre da vida. Foi este o gesto dos magos: reconhecer o Salvador e homenageá-la com o supérfluo das nossas riquezas: ouro (matéria), incenso (espírito) e mirra (sofrimento). Isso é tudo o que temos a oferecer. Os magos souberam interpretar um sinal dos céus. Deixaram para trás os pedestais de suas arrogâncias, abriram os cofres de suas riquezas e as ofereceram a Deus como gesto de agradecimento e louvor pelo milagre que souberam reconhecer: “Vimos sua estrela no oriente e viemos adorá-lo”. Quando isso se der em nossas vidas poderemos fazer o mesmo: entender o brilho sobrenatural da estrela de Davi, o milagre fascinante da segunda criação na pessoa de Jesus! WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br