Uma das mais terríveis pegadinhas para vestibulandos da língua portuguesa é o uso correto das palavras mal e mau. Um substantivo, outro adjetivo. O primeiro (com ele) nos fala do que é nocivo e o segundo (com u) nos aponta o que causa mal (com ele). Só o homem pode ser mau, impiedoso, sem escrúpulos. Haja paciência para entender tão sutis diferenças. Mas eis que o segredo reside num ensinamento cristão – vejam só! – que a sabedoria do divino mestre um dia nos proclamou: “Não é o que entra na boca que torna o homem impuro, mas o que sai da boca, isso torna o homem impuro” (Mt 15, 11). Pela boca contraímos doenças, proclamamos injustiças, caluniamos, semeamos o que é mal, a maldade de nossos corações. Por ela denunciamos perigos, o que é um mau e pode nos ocasionar prejuízos ou moléstias. Confuso? Então guarde a chave seguinte. Fora do coração humano não existe o mau, só o mal. Significa que aquilo que Jesus nos ensinou é a chave que buscamos, ou seja: o mau germina dentro de nós, ao passo que os males (perigos) estão fora de nós. Não é o que nos alimenta, mas a qualidade do que nos alimenta (tanto física quanto espiritualmente, que pode nos causar algum mal. Ao passo que o que nos é nocivo, se opõe ao bem, à bondade da alma e do coração, isso sim é verdadeiramente um mal. Não entra pela boca, mas pela alma, pelo coração! Estava fora, mas nos contaminou pela falta de asseio espiritual, pela negligência da vigilância com os perigos contra a pureza de nossas almas. “Vocês não compreendem que tudo o que entra na boca, passa pelo estômago e acaba indo para a privada?” – ironizou Jesus, para nos dizer que um mau pode até ser prejudicial e causar alguma enfermidade física, mas o mal maior é aquele que deriva do malfeito, do imperfeito, dos funesto e causa prejuízos maiores não só ao corpo, mas igualmente à alma. Então guarde isso: Mal (com ele): tudo o que é nocivo e contamina o ser humano de dentro para fora. O pecado é um bom exemplo. O demônio sempre foi o mentor de toda e qualquer maldade, malefícios que praticamos. Mau (com u): tudo o que causa moléstias ou prejuízos e pode atuar de fora para dentro. Doenças, catástrofes ou acidentes estão nesse rol que adjetivamos como mau. Jesus completa: “As coisas que saem da boca, vêm do coração e essas é que tornam o homem impuro. Pois é do coração que vêm as más intenções e essas é que tornam o homem impuro.” (Mt 15, 18). Eis então o quanto é precioso nosso asseio espiritual, essa preocupação periódica de uma higiene do coração, seja através do sacramento da reconciliação que a Igreja nos oferece, ou através de uma contrição sincera diante das nossas fraquezas, para melhor pureza de vida. Que de nossas bocas só exalem o que nosso coração respira, a bondade, o amor, a compaixão. Que mesmo feridos com eventuais doenças, ela nunca transpire ódio, ingratidão, maldade. Seja apenas e tão somente um mau, passageiro, momentâneo, mas incapaz de contaminar um coração de bem. “Pois é do coração que vêm as más intenções: crimes, adultérios, imoralidade, roubos, falsos testemunhos, calúnias” – completa Jesus, apenas e tão somente para fixar em nossas mentes o que é realmente mal, quando o que nos preocupa muitas vezes é um mau passageiro, uma moléstia da carne, nunca da alma. Grave bem essa: fora do coração humano não existe o mau, só o mal. Porque o mau contamina a carne, mas a maldade é doença da alma. A pior de todas. WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br