Montado na garupa do cavalo Zaino, do mons Vitor Batistela, o menino Tatto seguia orgulhoso seu ofício de coroinha. Aos cinco anos respondia habilmente às missas em latim, seguindo os passos do seu conterrâneo Adílio Daronch, também coroinha, que em 1924 foi assassinado na companhia do pe. Manoel G. Gonçales e hoje se tornaram os primeiros mártires beatos da diocese de Frederico Westphalen (RS). Ali, naquela região montanhosa e pedregosa, traçada por linhas como Manfio, Angico da Saudade, São Francisco do Turvo (sua origem), Progresso, São Roque, Vilinha, 21 de Abril, São João do Porto, Getúlio Vargas e outras, o menino enfeitava seu sonho de vida religiosa. Não demorou muito para entrar no seminário Verbita, de Penha, no PR. “Uma congregação missionária era tudo o que eu precisava”, confessou anos depois, Antoninho Tatto, já adulto e bem casado. Nesse ínterim, conheceu a vida louca da cidade grande e atirou-se por completo na faina paulistana de ganhar, ganhar, ganhar… Formou-se em administração de empresas e montou na garupa da ambição. Foi quando o terreno pedregoso por onde trilhava cruzou seu caminho com o de Inês, “a jardineira dedicada que cultivou minha aspiração missionária”. A semente dos vales e montanhas de Frederico germinou com força e exuberância na selva de pedra onde Deus o plantou. Desse encontro nasceram os quatro filhos do casal, desde sempre criados e orientados à luz da opção missionária dos pais. “Nossos filhos certamente se ressentiram pelas muitas ausências nos finais de semana, ou nos dias de semana à noite, nas muitas viagens de trabalhos missionários. Já adultos, disseram que sentiam nossa falta, mas que não trocariam por nada deste mundo tudo o que viveram conosco como missionários”, diz Tatto, cuja sensibilidade vai às lágrimas sempre que se lembra disso. Estava disposto a abandonar tudo, depois de uma maratona de palestras no interior do Paraná, quando recebe um bilhete da esposa: “Não se preocupe conosco, estamos com Jesus. Existe companhia melhor?” Mas a conclusão cara a cara foi mais taxativa ainda: “Jamais deixe a missão por nossa causa”, disse Inês. Para quem nos leu até aqui, a ideia que se passa é de uma pessoa radical, que deixou profissão e família para viver um sonho infantil, uma vocação não realizada. Engana-se. Apesar (diria, por causa) dessa opção louca, Toninho é um empresário bem sucedido, proprietário de um dos mais conceituados escritórios de contabilidade de Santo Amaro, zona sul de S. Paulo e outras empresas mais, que bem poderia estar usufruindo do conforto e benefícios que sua posição social pode lhe proporcionar. Mas prefere os riscos da estrada evangelizadora, percorrendo não só o Brasil, mas muitos outros países como EUA, Peru, Moçambique, Itália e outros, onde já levou sua palavra como missionário leigo do Meac. Grupo este que conheceu por força da própria profissão, quando um de seus fundadores procurou seus serviços para elaborar e oficializar os estatutos do Meac. Havia lido recentemente o livro Apóstolos Cansados e feito um propósito: “Se este cara morreu, vou dar continuidade ao trabalho que começou”. Pois não é que o cara agora estava ali, em carne e osso? Toninho tornou-se o maior divulgador e coluna de sustentação (espiritual e material) desse grupo. Perdeu sua esposa Inês para um câncer. Refaz agora sua vida ao lado de Fernanda, sua nova esposa, filha de missionários leigos, que desde a infância, também tem dentro de si essa semente de loucura pela obra de Cristo. Diz a respeito: “Inês foi e será sempre minha amada e eterna esposa. Deus colocou barro bruto e fedido nas mãos dela. O que sou foi ela que moldou, deu cor, perfumou e ofereceu. Hoje, casado com a Fernanda Inês, ela tem muito do que Inês e eu sonhamos e vivemos. Ser filha de missionários foi um detalhe caprichoso de Deus para coroar nossa opção”. Afinal, diz ele: “Servos inúteis é o que somos; qualquer coisa fora disso é pura graça de Deus”. WAGNER PEDRO MENEZES – Meac – 40 anos