TERNURA MATERNAL

Num mês de Maio nublado pela dor e sofrimento de milhares de famílias no mundo, onde o isolamento social e a morte fazem suas vítimas indiscriminadamente, sem olhar raça, religião ou posição econômica, a figura materna se levanta como ícone de consolo e proteção. Em especial Maria, mulher forte e altaneira, mãe dadivosa de todos os cristãos. Símbolo da ternura e da característica serenidade comum a todas as mães diante das provações, a ela recorrem os “degredados filhos de Eva”, aqueles que nela enxergam o colo do consolo ou o simples olhar da solidariedade.

Mãe-menina e imaculada – tinha aproximadamente 15 anos ao conceber por obra e graça divina – a história dessa mulher (simplesmente Maria) tornou-se maior e mais bela que qualquer outro conto ou lenda da débil literatura humana. Joaquim e Ana, seus pais biológicos, sequer revelaram ao mundo o sobrenome familiar, mas não existe na história outra mulher com tantos e tão belos codinomes, dentre eles o maior: Maria, mãe de Deus e dos homens! A nenhuma outra figura humana se atribui esse privilégio sem igual: gerar para os homens um Deus vivo, imagem e semelhança humanas e divinas… Como dizemos em canção: rosto humano de Deus, rosto divino do homem! Foi ela o instrumento desse milagre!

Quando seu filho divino, aos doze anos, olhou a longa estrada que os conduzia ao grande templo, enxergou nela o caminho que iria trilhar em breve. Seu coração adolescente encheu-se de expectativas, a ponto de demorar-se mais que o devido numa discussão apaixonada com os doutores da Lei. Aflitos, seus pais o procuraram por dias seguidos. O reencontro, três dias depois, deu a nota do que viria em breve, a separação familiar: “Não sabíeis que devo cuidar das coisas do meu Pai”. Maria calou-se e seu coração entendeu que aquele filho tinha uma missão a cumprir. Como mãe, restava-lhe, mais uma vez, a submissão aos planos de Deus.

Até aqui, essa história familiar é comum a qualquer filho de Deus. Toda e qualquer mãe sabe que os filhos não lhe pertencem, pois nascem e crescem para a vida, para o mundo. Um dia trilharão seu caminho. A renúncia materna, neste aspecto, é qualidade inerente a todas elas. Mas ser mãe de um Deus não aconteceu para nenhuma outra e Maria sabia em seu coração que haveria ainda muita dor e sofrimento nesta história. Iria perde-lo novamente e só o reencontraria glorioso no terceiro dia, depois do horrendo sacrifício que testemunharia de pé, diante dele. Mesmo assim, será dela a iniciativa do primeiro milagre. Acabou o vinho? Que tinha Jesus com isso? “Mulher, isso não nos compete… Minha hora ainda não chegou”. Então a mãe ordena aos servos: “Façam tudo o que ele vos disser”. Estava iniciada a vida pública daquele filho dileto. Dali em diante Ele não mais lhe pertencia.

É dessa mulher forte e mãe sempre dócil, cuja ternura no olhar encanta o mundo – não há nenhuma imagem de Maria cujo olhar não seja terno, dócil – que o mês de Maio nos fala sempre. Tradicionalmente, é no catolicismo que encontramos maiores manifestações dessa devoção mariana. Mas o mundo está carente de um olhar maternal, como o de Maria, mãe de Deus e nossa. Ela que foi a maior devota de seu Filho, que sempre acompanhou seus passos, que o incentivou a exercer seu ministério, que subiu com ele até seu calvário, que contemplou sua agonia e morte de cruz, que o recebeu inerte em seus braços e o entregou para a sepultura, mas que testemunhou com os discípulos sua ressurreição e ascensão, essa mesma mãe e mulher foi elevada aos céus e caminha conosco. Na dor e sofrimento Jesus a contemplou e disse: “Filho, eis aí tua Mãe!”. Então, por que não acreditar?

WAGNER PEDRO MENEZES
wagner@meac.com.br

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