Todos nós, crentes ou ateus, executivos ou poetas, do bem ou do mal, um dia nos encantamos frente às maravilhas desse mundo, sejam elas uma flor, uma paisagem, uma obra de arte, um animal, um ser humano ou tudo junto. Há aqueles cujo encantamento se dá diante de um espelho. Outros que, cegos por natureza ou pela própria prepotência, nada disso vêem, mas podem sentir. Quão maravilhosa é a brisa num dia quente! Quão aromática é a estação primaveril, quão aconchegante um leito de amor, um lar de harmonia! Assim, um a um, todos nós passamos pela vida levando sempre recordações de beleza, encantamento, gratidão. A harmonia com o universo é uma aspiração humana, que faz parte de sua natureza. Exatamente essa é sua maior aspiração, pois que busca constantemente o belo, o agradável, o prazeroso. Essa necessidade quase vital de harmonizar-se com o meio e consigo mesmo é que faz do ser humano um observador nato e exigente, cuja meta é construir ou adquirir para si aquilo que mais o encanta ou fascina. Não se trata apenas de uma questão de acúmulos materiais, mas também e principalmente de conquistas espirituais, amorosas ou do próprio intelecto. Tudo que é belo nos atrai. Tudo que sacia nossa necessidade de decifrar mistérios, eliminar problemas, buscar novos conhecimentos, realizar projetos, descobrir, inventar, são armas que temos para encontrar a Perfeição, o Belo em nossas vidas. Até a necessidade de aprimorar e modular nossa própria espiritualidade e nossos conhecimentos desse universo é uma busca pela beleza que nos rodeia. Com uma diferença, talvez: essa última não aceita intervenções plásticas, cirurgias de correção, falsetes, simulações, pois a beleza legítima estará na integridade da alma pura, sem máculas e da inteligência capaz de definir o que é certo ou errado, bom ou mal na construção da própria felicidade. Definitivamente, tudo que é belo manifesta a presença e ação de Deus. Bento XVI, em sua fala semanal das audiências públicas que realiza às quarta-feiras, abordou o assunto, falando do caminho da beleza: “Talvez já tenha lhes acontecido que, diante de uma escultura, um quadro, alguns versos de poesia ou uma peça musical, tenham sentido uma íntima emoção, uma sensação de alegria; percebam claramente que, diante de vocês, não existe somente matéria, um pedaço de mármore ou de bronze, uma tela pintada, um conjunto de letras ou um cúmulo de sons, e sim algo maior. Este “algo” “nos fala”, é capaz de tocar o coração, de comunicar uma mensagem, de elevar a alma”. Para o Papa, a beleza é realmente um caminho que nos aproxima de Deus. Na arte sacra, por exemplo, todos os detalhes de uma expressão artística contribuem para um encontro com o divino, como “verdadeiros caminhos rumo a Deus, a Beleza suprema”. Daí a importância de templos belos e majestosos, da música sacra, da arte como expressão de fé, que nos ajudam a “crescer na relação com Ele, na oração”, concluiu o sumo pontífice. Por outro lado, fico a imaginar a importância que damos ao “templo vivo”, a interioridade humana que nos aponta por primeiro a beleza de Deus. É triste constatar que, apesar de toda beleza que nos rodeia, pouco ou nada fazemos para preservar nossa beleza interior, a harmonia de que necessitamos para compreendermos e contemplarmos com maiores admirações e respeito nosso próprio corpo, nossa alma, a mais bela criação do mais primoroso artista do Universo, Deus, Criador de tudo e de todos. Por mais céticos que possamos ser, nenhum argumento do mundo materialista se sobrepõe à fonte de toda beleza, aquela que transforma o caos da prepotência humana e dobra o joelho dos indiferentes diante das maravilhas do Universo. Daí a importância de bem cuidarmos do templo de Deus que somos. WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br