O êxodo do povo de Deus para a Terra Prometida durou quarenta anos e provocou milhares de mortes, bem como proporcionou outro tanto de nascimentos em plena travessia. Outro êxodo se deflagra nos dias atuais, agora motivado por uma fuga em massa da pior das escravidões: a miséria. O movimento migratório do continente africano em direção a países europeus não é um simples problema regional, mas diz respeito a todos nós, humanos que somos. O mundo não pode continuar alheio a esse fenômeno, sem respostas a uma questão no mínimo humanitária, quando não cristã. Quais as reais motivações desse movimento? Vimos recentemente um caminhão ser abandonado na fronteira de dois países europeus. Os policiais austríacos acreditavam ser mais um caso corriqueiro de contrabando de armas ou mercadorias, comum naquela área. O inusitado desvendou-se com a mais macabra das cenas que um baú frigorífico pudesse proporcionar; dentro dele jaziam 71 corpos contorcidos e amontoados a tal ponto que não puderam quantificá-los com exatidão num primeiro momento. Tratava-se de mais um grupo de cidadãos sírios em fuga da opressão. Queriam tão somente novas perspectivas para o pouco de dignidade que suas vidas pudessem ter. Ou merecer. Mas morreram a caminho, asfixiados como numa câmara de gás, transportados num veículo tão desumano quanto seu próprio nome: caminhão frigorífico! A leva de imigrantes nesta região faz suas vítimas quase que diariamente. Um dia depois, um barco naufragou com 150 imigrantes. Em 2013 foram 700 os mortos em busca de uma vida melhor. Em 2014 esse número chegou a 3.200. Em 2015, apenas nos quatro primeiro meses, era 2.500 o número de vítimas fatais. Num único mês (julho/ 2015) ao menos 107.500 imigrantes conseguiram completar o ciclo dessa fuga, embrenhando-se pelos mais diversos países europeus. Venceram uma etapa, mas e agora? Continuarão na clandestinidade ou terão ao menos uma acolhida digna, solidária? Sabemos que não é tão simples assim. Por mais que uma nação se afirme soberana e fraterna, aberta às necessidades dos povos e sensível ao clamor dos injustiçados, o orgulho pátrio, o domínio sobre seus direitos, (esse queijo é meu!) ou as próprias dificuldades no campo social e econômico são fatores que desmotivam qualquer novo olhar de compaixão. Bastam nossos problemas! – justificam. Assim, de fuga em fuga, de morte em morte, migrantes se tornam números, dados estatísticos apenas. A indiferença é o pior dos carrascos. Dela nasce a conivência. Generaliza-se a culpa, pois que qualquer que seja a situação de injustiça tem origem no indiferentismo e cegueira daqueles que não querem ver. Todos temos nossa parcela de culpa nesse processo. Não são somente os fatores de miséria extrema, fome, perseguição política, religiosa ou étnica que aceleram um processo migratório, mas simplesmente a falta de solidariedade humana. O povo de Deus fugiu da escravidão do Egito. Jesus fez o caminho inverso, fugindo da perseguição em sua própria terra e se refugiando na antiga terra da escravidão. Talvez isso nos sirva de lição: a busca de uma terra de Promissão, um oásis terreno se dá encarando a origem, as razões dos próprios conflitos e das próprias carências. Um cristão compreende isso. O pecado da injustiça social deve ser enfrentado com um coração puro e destruído na sua origem. Caso contrário, transferimos um problema, abandonamos na estrada um caminhão de soluções que pensamos conduzir. WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br