Encerrando sua carta apostólica dirigida à nossa querida Amazônia, Papa Francisco descreveu-nos um longo sonho de vida eclesial. Primeiramente nos mostrou caminhos para a Igreja marcar presença e delimitar espaços de atuação a partir da realidade. A atuação eclesial não pode interferir ou desvirtuar o que de bom já existe na tradição de um povo. Muito menos no meio em que vive, como comunidades “cheias de vida” (91). A partir dessa constatação, a presença da Igreja deve centrar-se na vida Eucarística, “como fonte e cume” duma “riqueza multiforme”.
Para que isso aconteça, “são necessários sacerdotes, mas isto não exclui que ordinariamente os diáconos permanentes – deveriam ser muito mais na Amazônia -, as religiosas e os próprios leigos assumam responsabilidades importantes em ordem ao crescimento das comunidades…” (92). Sobrou pra todos. Aquilo que seria um plano emergencial, como a possibilidade de ordenação de homens casados ou mesmo a utópica ordenação feminina, não passou de uma ilusão mal formulada, fora da realidade sacerdotal até então preservada pela milenar história do catolicismo. Então o dinamismo eclesial é de responsabilidade de todos, é atividade inerente à realidade mística do corpo de Cristo, a Igreja que somos.
O Papa vem nos reafirmar nosso compromisso missionário. “Os desafios da Amazônia exigem da Igreja um esforço especial para conseguir uma presença capilar que só é possível com um incisivo protagonismo dos leigos” (94). “Por isso devemos pensar em grupos missionários itinerantes e ‘apoiar a inserção e a itinerância’ dos consagrados e consagradas ao lado dos mais desfavorecidos e excluídos” (98). Nestes grupos incluir e valorizar a participação feminina, reconhecendo “a força e o dom das mulheres”, subtítulo onde o Papa foca a importância feminina na ação da Igreja. “Jesus Cristo apresenta-se como Esposo da comunidade que celebra a Eucaristia, através da figura de um varão que a ela preside como sinal do único Sacerdote” (101), mas “as mulheres prestam à Igreja a sua contribuição segundo o modo que lhes é próprio e prolongando a força e a ternura de Maria, a Mãe” (101). Depois dessa, seria bom que muitos de nossos homens fossem catar coquinho. A força e a ternura são características femininas!
Para se ampliar os horizontes a presença da Igreja nunca pode gerar conflitos. “O conflito supera-se num nível superior, onde cada uma das partes… se integra com a outra” (104). Nossa presença eclesial é de constante diálogo com a realidade. “Isto não significa… relativizar os problemas, fugir deles ou deixar as coisas como estão” (105). O diálogo ecumênico é um desses tópicos. “Numa Amazônia plurirreligiosa, os crentes precisam de encontrar espaços para dialogar e atuar juntos pelo bem comum” (106). A maior riqueza da vida comunitária está no diálogo e no respeito às diferenças. “Nada disto teria que nos tornar inimigos” (108).
Diálogo e respeito, nos pede o Papa. E conclui: “Como cristãos, a todos nos une a fé em Deus, o Pai que nos dá a vida e tanto nos ama. Une-nos a fé em Jesus Cristo, o único Redentor, que nos libertou com o seu bendito sangue e a sua ressurreição gloriosa. Une-nos o desejo da sua Palavra, que guia nossos passos. Une-nos o fogo do Espírito que nos impele para a missão. Une-nos o mandamento novo que Jesus nos deixou, a busca duma civilização do amor, a paixão pelo Reino que o Senhor nos chama a construir com Ele…” (109). E termina com uma pergunta: “Como não rezar juntos e trabalhar lado a lado para defender os pobres da Amazônia, mostrar o rosto santo do Senhor e cuidar de sua obra criadora?” (110) Responda você mesmo.
WAGNER PEDRO MENEZES
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