Está em exposição na catedral de São João Batista, em Turim, na Itália, o manto que teria envolvido o corpo de Cristo, conhecido como Santo Sudário. A exibição pública, que acontece pela décima primeira vez em quatro séculos, deverá se estender por 67 dias. Trata-se de um tecido de linho grotesco, com quase 4,5 por 1,5 metros, cuja tradição histórica o considera como a mortalha que José de Arimatéia e Nicodemos usaram para o sepultamento apressado de Jesus, às vésperas daquela Páscoa fatídica. Nele está estampada a imagem frente e costas de um homem vítima de crucificação, com impressionantes concordâncias históricas e anatômicas com os relatos evangélicos. Um homem coroado de espinhos, com pés e mãos feridas por cravos, com ferimentos da típica flagelação romana, com seu lado perfurado e nenhum dos ossos fraturados. As primeiras notícias da existência dessa relíquia (além da narrativa evangélica) apontam o ano de 1357, quando foi exposta numa capela francesa de Lirey, próximo a Paris. Como e quando chegou lá não se sabe exatamente. Desde então, verdadeiras odisséias acompanharam sua história, até que, em 1578, a família Sabóia, em posse da relíquia, a transferiu para Turim. Mas só em 1898 um novo fato surpreendeu o mundo, a invenção da fotografia. Secondo Pia, um fotógrafo italiano, foi autorizado a fotografar aquela peça. Ao revelar seu trabalho, descobriu que a imagem estampada naquele misterioso tecido se constituía na verdade um negativo fotográfico, com delineamento perfeito de um rosto e um corpo humano. Foi um corre-corre, um alvoroço total no mundo científico. A partir daí, o mundo da Ciência debruçou-se sobre aquela peça com uma avidez e ânsia de explicações que nenhum outro artefato humano experimentou ou experimenta até hoje. Todas as conclusões são inconclusivas. Todos os estudos batem na mesma tecla: verdadeiro ou falso? Desde então, a Igreja se mantém discreta sobre o assunto. Nunca incentivou, mas também nunca condenou a veneração do Sudário. Trata-se de um objeto sagrado que lembra em detalhes a história da Paixão e Morte e vivifica a fé na Ressurreição, a razão de ser da Igreja Cristã. Provar ou não sua autenticidade é problema científico. Aos cristãos cabe respeitar e preservar uma lembrança extraordinária da vida miraculosa do seu Mestre e Senhor, para quem nada era impossível, nem mesmo a possibilidade de nos deixar estampada uma foto em três dimensões, revelando-nos em detalhes seu martírio de amor por nós. Questão de fé. Por que insisto na revelação fotográfica? Simples: a arte da fotografia, nos seus primórdios antes dos nossos milagrosos celulares, exigia alguns pressupostos. Primeiro, uma câmara escura. Segundo, uma estampa branca, virgem como um papel fotográfico. Terceiro, elementos químicos. Quarto, um flash de luz. Então, não seria a estampa do sudário uma autêntica fotografia de Jesus? Acompanhe o raciocínio. Um sepulcro, que muitos ainda denominam como câmara mortuária, nada mais é que uma sala escura, como certamente também foi o sepulcro ainda novo onde depositaram Jesus. Envolveram-no cuidadosamente num linho branco, o melhor dos tecidos conhecidos naquela época, untando antes o corpo ferido do Mestre com perfumes e bálsamos preciosos, para somente após a Páscoa o banharem e prepararem com mais esmero, pensavam. Imaginem a combustão daqueles elementos químicos: sangue, suor, perfumes e bálsamos. Por fim, o milagre da Ressurreição se dá num extraordinário e espetacular flash de luz, testemunhado e narrado pelos anjos e soldados ali presentes. A foto estava feita. Alguém – talvez o próprio Jesus – ainda se deu ao trabalho de preservar as evidências do milagre, dobrar os panos e os deixar ali, bem visíveis. Portanto, ouso afirmar, o Sudário de Turim é a primeira fotografia de que se tem notícia. Antes mesmo de conhecermos essa maravilha da ciência humana, a arte da fotografia. WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br