Quinze de outubro, a partir de agora, será sempre lembrado como o Dia dos Mártires brasileiros. Uma história que desde nossa colonização vem se repetindo, como se a ação pastoral da nossa Igreja fosse geradora de eternos conflitos, sem outra saída que a morte de inocentes. É o que nos recorda o martírio em massa dos católicos de Uruaçu e Cunhau, no Rio Grande do Norte, em 1645. Existe alguma saída para esses constantes conflitos? Na visão do papa Francisco, antes de nos preocuparmos com essas alternativas – que só buscam o conforto de uma ação sem obstáculos – deveríamos nos unir à missão permanente de Cristo e nos colocarmos em saída. “Juntos na missão permanente” é que descobriremos “a alegria do Evangelho para uma Igreja em saída”. Tema e lema de uma campanha em curso, para a qual muitos fazem vista grossa. Ainda bem que aqueles mártires não esmoreceram na fé. Porque quem assume uma identidade missionária, assume, por conseguinte, a alegria de ser Igreja. E se põe em saída, mesmo que esta lhes custe a vida.
O que vemos acontecer na universalidade cristã é quase uma situação de encurralamento da ação missionária. Continentes que outrora primaram pela expansão do cristianismo no mundo, hoje se sentem acuados, pressionados, desmotivados. Não à toa, temos à frente dessa Igreja um papa latino americano, o primeiro deles… Não à toa, Brasil e países vizinhos constituem hoje a maioria de cristãos no mundo. Não à toa, esse mesmo Brasil, através da liderança do pontífice argentino, apresenta ao mundo, neste mês missionário, o nome de 30 beatos brasileiros (Foram quase 150 os massacrados, mas de apenas 30 se conhece os nomes) para ocuparem o panteão dos muitos santos que germinam nestas terras de santa cruz, nestes solos sagrados da nova Canaã da fé cristã. América Latina chegou sua vez! Chegou nossa vez de mostrar ao mundo que aqui também a semente dos mártires é profícua tanto quanto no advento da nossa fé. Em saída nos pomos, em saída está toda e qualquer comunidade que bendiz e glorifica seus mártires, que mostra ao mundo, com orgulho, os testemunhos de seus discípulos e missionários, do passado e do presente.
A canonização de trinta brasileiros ao mesmo tempo não pode ser um fato corriqueiro, sem grande significado para a continuidade da missão evangelizadora da Igreja. “Ficamos felizes, pois esta canonização é uma grande bênção para a Igreja”, comentou o arcebispo de Natal, d. Jaime. Os novos santos são André de Soveral, padre Ambrósio Francisco Ferro, 27 outros companheiros, além do ministro da eucaristia Mateus Moreira. Esse último com um testemunho especial, que veremos logo adiante. O fato que culminou com seus martírios aconteceu em 1645, durante a invasão holandesa ao nordeste brasileiro. Por serem calvinistas, os invasores perseguiam os adeptos da fé católica. Num desses conflitos, invadiram uma missa e mataram seu celebrante. Em seguida, em dois ataques distintos, exterminaram os leigos da comunidade, arrastados para um trecho do rio Potengi.
O martírio de seguidores da fé cristã, à primeira vista, nos mostra uma situação sem saída para a Igreja, que desde sua origem tem provado do amargo fel da incompreensão e intolerância. Não está sendo diferente nos nossos dias. Mas aqui fica o testemunho do leigo Mateus Moreira, o ministro da eucaristia acima citado. Ferido com uma faca, tombou dizendo “Louvado seja o Santíssimo Sacramento”. Diante dessa aparente ironia, seus algozes abriram-lhe mais a ferida e, pelas costas, arrancaram-lhe o coração. Daqui se desprende a saída que temos: enquanto muitos nos apunhalam pelas costas, enquanto a vida missionária da Igreja vai sendo reprimida e questionada pelos descrentes que invadem nossas famílias com suas ideologias temerárias e falsas doutrinas; enquanto estes nos caluniam e nos perseguem, eis que o testemunho dos santos ainda nos lembra: a alegria do Evangelho é dar a vida.
É essa, ainda, a melhor saída.
WAGNER PEDRO MENEZES
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