DíZIMO DO REBANHO MARCADO: Wagner Pedro Menezes – Meac

Dízimo nunca foi uma imposição da fé, nem invenção da Igreja. O cristão não tem o direito de reclamar. Todas as bênçãos recaem sobre sua fé, graças à predileção e proteção divinas. Aparentes sinais de maldição, que a vida habitualmente nos apresenta, tornam-se instrumentos de purificação em vista da bênção maior, a graça da salvação. Tudo o que constrói a vida cristã tem a mão divina a nos proteger, abençoar, purificar e tornar-nos santos diante de seus olhos. “Todos os povos da terra verão, então, que és marcado com o nome do Senhor, e temer-te-ão” (Deut 27,10). Essa é a graça maior da pertença a um rebanho cujo pastor nos quer a salvos, longe das maledicências, cegueira, indiferentismo, ingratidão e prepotência dos que renegam as bênçãos dos céus.

Historicamente, essa predileção e proteção divina estão bem acentuadas no processo do Êxodo, quando o povo de Deus toma posse da Terra Prometida. Foi após aquela exaustiva caminhada pelo deserto, o longo processo de purificação e reconhecimento do poder de Deus em suas vidas, que o indivíduo de fé sentiu mais intensamente a graça dessa predileção a guiar seus passos. Com isso, o povo de Deus não teve dúvidas em estabelecer um propósito de vida: oferecer a Deus seus dízimos e primícias. Eis como um gesto de gratidão entrou na vida dos que acreditam! Nada imposto, nada obrigatório, mas de uma espontaneidade conseqüente do pouco ao seu alcance, ou seja: diante da pequenez e fragilidade de suas almas, o mínimo que podiam oferecer a Deus era fruto dos bens materiais que suas vidas conquistavam com suor e sacrifícios pessoais.

Gratidão e reconhecimento estavam presentes neste gesto. Tanto que ao depositarem seus dízimos assim oravam diante do altar: “Reconheço hoje, diante do Senhor, meu Deus, que entrei na terra que o Senhor tinha jurado aos nossos pais nos dar” (Deut 26, 3). Acompanhada dessa oração, faziam a entrega de seus dízimos e recordavam a penosa submissão no Egito, a árdua travessia no deserto, mas igualmente como o Senhor guiou passos e ações e usou a determinação do patriarca Moisés para guiá-los a um território de fartura e bonança, de “leite e mel”, de liberdade e soberania… O ritual do dízimo era uma intensa manifestação de alegria, júbilo pelas conquistas, pelas vitórias que só quem luta sabe avaliar. Previa Moises: “assim alegrar-te-ás por todos os bens que o Senhor, teu Deus, te tiver dado a ti e à tua casa” (Deut 26,11). Fica claro que nenhum ritual de dízimo deva ser obrigatório, impositivo, usado de maneira torpe para dele se alcançar mesquinhos sonhos ou meros ideais transitórios. O dízimo é, antes, um obrigado pelos bens já alcançados, pela graça, pela proteção que já recebemos dos céus, do Pai. Nunca negociata para se obter mais.

Se, diante dessa prática, muitos ainda fazem ironias a nosso respeito, nos observem tão somente como uma massa de manobra qual rebanho marcado rumo ao sacrifício, é porque não vivenciaram a graça da liberdade em suas vidas. Essa é a maior das virtudes humanas. Liberdade que nos permite agir, caminhar, construir, sonhar. Liberdade que dá asas às nossas ações e complementa nossa fé na vida, no outro, na capacidade de realizações que adormece dentro de nós. Porque “o Senhor, teu Deus, cumular-te-á de bens, multiplicará o fruto de tuas entranhas, o fruto de teus animas, o fruto da tua terra, na terra que jurou a teus pais dar-te”. A maior promessa para os que acreditam ainda está por vir: alcançar um dia o gozo pleno das alegrias de uma Canaã Celeste, a volta em definitivo para o seio da casa do Pai. Quem assim espera, sabe que as eventuais conquistas terrenas nada significam, em vista das alegrias que nos esperam. Quem oferece seus dízimos, suas primícias, o que de melhor tem como gesto de gratidão e pertença a Deus, nada paga, nada subtrai de si próprio; apenas devolve. Povo marcado com este gesto, não está marcado para morrer, mas para viver. E plenamente.

 wagner@meac.com.br

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