DÍZIMO – PARA OS MAIS PEQUENOS – Wagner Pedro Menezes
Para os mais pequenos
Havia um mendigo caminhando no deserto, com apenas uma bolsa velha no ombro e roupas sujas; carregava consigo um pão que havia ganho de alguém.
Passou por ele a caravana de um príncipe de um país que havia sido assolado pela fome. O príncipe, muito gentilmente, pediu algo para comer.
O mendigo enfiou a mão na bolsa e cortou um pedaço bem pequeno do pão que tinha, e deu ao príncipe.Lá na frente, próximo de um oásis, o mendigo enfiou a mão na bolsa para pegar o pão, e percebeu uma pedrinha no fundo da bolsa. Tirou a pedra e percebeu que ela brilhava como ouro, era ouro. Descobriu então que no mesmo tamanho do pão que ele havia dado ao príncipe.
Arrependeu-se, pois se tivesse dado o pão todo, teria ouro suficiente para mudar de vida.
O dízimo é assim, em nossa alma; luzes brilham na alma daquele que sabe partilhar com o próximo o pouco ou o muito que tem.
Nós nunca sabemos se quem bate à porta de nossas casas é um anjo ou não. Por isso, é importante que recebamos bem a todos, e sejamos generosos.
Em minhas viagens missionárias, tenho aprendido muito com o povo mais simples. São histórias, experiências e testemunhos que brotam de uma fé viva, coerente com os princípios evangélicos, a doutrina do mestre de Nazaré. Em 1995, por exemplo, em pleno sertão maranhense, conheci um senhor semi-alfabetizado, porém muito falante e prestativo, a ponto de merecer um cargo na casa das leis do município, como vereador mais votado no local.
Entusiasmado com minha pregação, Salvino acompanhou-me pelas várias comunidade rurais, falando sempre da sua fé nos milagres do dízimo. “Tudo que sei, aprendi da Bíblia”, dizia entre uma conversa, uma pregação, uma porteira na estrada ou um intervalo qualquer… “Ano passado, fiz um banquete para os pobres, matando uma novilha de meu gadinho. Foi uma festança danada… Só tinha pobre, mas todos nos sentíamos ricos, pois Deus nos dava condições de retribuir um pouco das suas graças com um dízimo de amor aos pequeninos…
” E me falava de suas convicções sobre o dízimo, “não só aquele dado na Igreja, que é sagrado, mas aquele que temos condições de devolver diretamente a Jesus, através dos pobres”…
Ceta feita, no interior do Paraná, fazia um semana de pregações sobre o dízimo, visitando diversas comunidades rurais. Em todas elas, chamou-me a atenção a maneira simples com que o povo participava da procissão das ofertas.
Traziam os frutos da terra: leite, queijo, ovos, pacotes de arroz, feijão e… caixas de tomate, o produto mais abundante naquela região. No final da missa, ficava observando, admirado, o resultado daquele estranho ofertório, que dava um colorido todo especial ao altar do sacrifício. Depois, tudo era transportado até à cidade, onde uma equipe de ação social fazia a triagem para as diversas famílias carentes e obras sociais cadastradas na comunidade. Naquela comunidade, Congonhinhas, entendi plenamente o sentido da oferta consciente: dar não apenas o que sobra, mas principalmente o necessário, para a construção de uma sociedade de irmãos.
Estava em Bandeirantes, Paraná. A celebração da partilha era irradiada pela emissora local. No final, um senhor chegou-se a mim, ofegante: Missionário, ouvia a missa pelo rádio. Quando percebi o assunto, saí correndo de casa e vim para a Igreja, para ver se era aqui mesmo que estavam falando de dízimo. Sempre achei que isso era assunto de protestante. Hoje, porém, estou orgulhoso de ser católico e poder dizer que católico também tem o direito de ser dizimista. Ao término de uma celebração, em Ibirarema, SP, uma senhora se aproximou e me entregou uma carta. Nela relatava sua vida: mãe sofredora, com o companheiro alcoólatra e desempregado, “não tinha um plano de vida”.
Um dia a comunidade a acolheu e lhe deu condições de superar as dificuldades, ensinando-lhe uma atividade para sobreviver. Vive agora da confecção de salgadinhos, dos quais tira 10% para a Igreja, como dízimo de gratidão. Benedita dizia em sua carta: “Eu dou 10% porque se Ele não me desse condições para viver, como poderia restituir tudo o que Deus me dá por amor?”.
E concluía: Hoje sou católica praticante, pois Deus me perdoou de todos os meus erros e já ganhei as alianças… Logo poderei chamar meu companheiro de esposo… Logo poderei tomar a Eucaristia, pois Cristo vivo estará presente em mim….