Todas as vezes que precisamos evocar a palavra de Deus para justificar a prática do Dízimo colocamo-nos diante da lei que deve ser cumprida. Lei é lei. No entanto, se queremos manifestar nossa gratidão a Deus por ter-nos criado e dado a cada um de nós tudo o que Ele criou, não precisamos de nada disto. Oferecemos porque temos. E sabemos quem é que nos deu tudo, de onde veio tudo. Por isso damos uma parte do que temos como forma de agradecer pelo que recebemos. É isto que precisamos desenvolver:
a cultura da gratidão. Sabemos reconhecer as limitações que temos, compreendemos que por nós mesmos nada podemos. Se nos consideramos importantes porque temos inteligência e realizamos coisas e fatos, corremos o risco de nos julgarmos auto-suficientes, e se tudo podemos não precisamos de nada de ninguém. Buscamos com nosso trabalho, criatividade e vontade satisfazer nossas necessidades. Necessidade satisfeita, problema resolvido.
Será mesmo? Pelo que se nota, o homem é um eterno insatisfeito. Mal consegue o que sonhou, já sonha diferente. Quanto mais tem, mais quer e acha que assim é que deve ser.
Talvez por causa desta insatisfação o homem tenha criado tantas coisas bonitas e importantes que podemos ver no mundo de hoje. E podemos imaginar o que mais surgirá no futuro. Quanto mais o homem cria mais descobertas faz e mais facilidades tem para criar e descobrir novas coisas. Onde terá fim esta história? Nunca! Porque o homem cria cada vez mais necessidades, novas necessidades. Assim como nunca o homem será satisfeito por completo, nunca irá realizar-se plenamente porque, a cada passo importante de sua caminhada histórica, descobre o quão pouco sabe.
Quem viveu no século passado com certeza se julgava inteligente por ter realizado tantas coisas. E é verdade: foram inteligentes e fizeram coisas boas, indispensáveis. Mas, hoje tudo aquilo, comparado com nossa era, não passa de algo simples.
Isso tudo vai criando em nós uma crosta perigosa de auto suficiência, de poder absoluto de criadores, de deuses. Então, se tudo posso, por que me preocupar com algo ou alguém? Por que dar parte daquilo que realizo a quem quer que seja? Sob que alegação, por qual razão? Que cada um faça o que fiz e faço e estamos conversados. Não tenho que partilhar nada, o que tenho é meu.
E o homem continua insatisfeito, infeliz e querendo mais.
Por que será que a vida é assim?
É porque fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Temos o rosto de Deus e devemos ser como Ele, Amor. Ser semelhante é ter reflexos da pessoa com quem nos assemelhamos.
O amor tem parâmetros que nos levam ao encontro dos outros com necessidades iguais às que queremos satisfazer. Só realizamos nossos sonhos à medida que realizamos os sonhos dos outros. Por sua vez, outra pessoa só se realiza se a nossa realização estiver no projeto de suas vidas. É uma interdependência interessante que o Criador quis estabelecer entre nós e com Ele. Para conviver nesta interdependência é necessário não considerar-se mais e nem melhor.
Se não somos mais e nem melhores, e temos todos a mesma origem, por que nos julgamos mais merecedores? Por que temos o que não tem nosso irmão? Ele precisa tanto quanto eu. As mesmas oportunidades que tenho, ele deve ter. Se ele tem oportunidade, realizará o que realizo. Se sou feliz ele também será. Se consigo algo importante para minha vida e possibilito que meu irmão também consiga, ele também possibilitará que outros consigam o mesmo.
Que maravilha! Não temos mais problemas. Quanta utopia! Mas é por aí que passa o ser humano.
Quando encontramos na Bíblia tantos textos que falam da “obrigação” de dar o Dízimo, esta palavra obrigação tem um peso de acordo com o modo como vivemos, da forma como nos comportamos. Para uns pode ser obrigação, para outros é gratidão, é amor, é partilha.