Homilia de 7 de setembro – Itaipu – Niterói – Dom Adair José Guimarães.
Paróquia São Sebastião
Estamos hoje celebrando a missa da partilha, do dízimo, da semente de prosperidade. Poderíamos tentar entender a grandeza do gesto de devolução do dízimo, sua entrega livre e orante como um sinal profundo de um coração livre e próspero. Como alcançar a graça de ser um dizimista autêntico e fiel? Não podemos entender e tão pouco alcançar o profundo sentido do dízimo sem que antes destronemos dentro de nós a pedra do orgulho e do fechamento que nos acompanha no nosso processo humano. O pecado original foi a semente da incoerência que ocupou em profundidade o coração dos nossos primeiros pais e, de tabela, alcançou o coração da humanidade inteira. Nascemos com essa tendência concupiscente e fechada, arraigada dentro de nós. É a lamentável situação de pecado que emerge a partir de dentro de nós. A graça santificante do batismo nos perdoou e nos deu a porta do céu, mas não foi suficiente para nos dar a santidade. É preciso buscá-la permanentemente e estar disposto a lutar contra a estrutura de fechamento que é inerente à fraqueza humana.
A nossa estrutura psíquica tendente ao fechamento e à vida carnal, como nos alerta o Apóstolo Paulo, precisa ser superada pelos meios da oração, do sacrifício e da caridade. O fechamento interno que trazemos dentro de nós torna-se uma barreira para a vivencia cristã. Aqui podemos entender porque casamentos se arruínam, amizades se desfazem pobres são esquecidos e tantos se fecham no egoísmo e não se abrem ao perdão, ao amor e à entrega amorosa e fiel do seu dízimo à Igreja. Se ainda não sou dizimista ou se ainda não aceitei de modo oblativo meu dever para com o dízimo e as ofertas, é porque ainda continuo trancado dentro de mim mesmo, afeito ao egoísmo danoso e escravo dos caprichos de um coração que não se entregou ao processo da conversão libertadora. Desta feita, o coração da pessoa humana deixa de ser o terreno fértil para que a semente da prosperidade possa nele crescer e dar seus abundantes frutos. É preciso o processo de luta contínuo para vencer o terrível mal do fechamento original que trazemos em nós.
O dizimista fiel se torna verdadeiramente discípulo de Jesus. Ouve atentamente a voz do mestre e o segue na missão. Não resta dúvida, aceitar Jesus na nossa vida e acolher o seu Evangelho nos faz totalmente livres, pois Jesus não tira nada de nós, mas nos dá tudo. O dizimista autêntico age de maneira nova; tudo em sua vida tem o alcance da mão amorosa e misericordiosa de Deus. Vive o seu discipulado como servo amoroso, caritativo e portador da Divina Misericórdia. Entregar o dízimo significa entregar também o coração, a vida, o que somos e o que temos. Nosso dízimo deve ser entregue com um profundo espírito de oração. Eu chamo isso de dízimo orante. Se você sente alegre e feliz ao entregar seu dízimo é sinal que já alcançou esse nível de espiritualidade atinente ao dizimista fiel. Desde quando me tornei dizimista, em 1987, quando ao implantar o dízimo na minha primeira paróquia senti no meu coração que o primeiro dizimista devia ser o padre. Como foi libertadora aquela atitude que continuo com amor até hoje. Quando assumi a Diocese para a qual fui designado bispo, no primeiro dia fui visitar o escritório paroquial da catedral e ali preenchi minha ficha de dízimista. Sei que tenho uma grande missão pela frente: animar os padres sobre o dízimo. Pobres paróquias que sobrevivem à custa de bingos, festas de barraquinhas regadas com cerveja e outras promoções de cunho pagão. O dízimo é essencial no processo evangelizador. Como ser um cristão autêntico se continua fechado no apego aos bens?
A conversão se completa com o despojamento dos bens, do desapego dos mesmos. É comum ouvir algumas pessoas pregarem que a conversão passa pelo bolso. Isso é verdade, mas é preciso entender que o bolso não pode se abrir verdadeira e corretamente se o coração está fechado. Nesse caso, o coração é a chave do bolso e da própria vida A fé nos atesta que “Deus ama quem oferta com alegria” (1Cor. 9,7). Portanto, a semente da prosperidade advém de um coração alegre e feliz que oferta com amor e oração. O dizimista fiel é próspero, não apenas materialmente, mas, sobretudo humana e afetivamente. Hoje, fazendo minha caminhada pela manhã, encontrei várias pessoas, indiferentes, frias, absortas em si mesmas, mas me chamou a atenção duas mulheres e um senhor que alegremente me deu um bom dia carregado de um semblante terno e amoroso. Não tenho dúvidas, aquelas pessoas são dizimistas fiéis. O dizimista fiel reparte não somente os bens, mas a sua vida, sua existência e o Bem maior que traz dentro de si: a presença alegre, terna e amorosa do Espírito Santo de Deus. O dizimista fiel ostenta em sua vida e em seu semblante a ternura de Deus, pois é livre e o amor tornou-se a medida de todas as coisas em sua vida e de sua família. Até mesmo os dizimistas mirins, nossas crianças, são diferentes na escola e na família por serem mais fraternas e participativas.
Um último pensamento com referência ao “Dia da Pátria”, que celebramos hoje. Certamente que muitos puderam ver hoje muitos políticos e candidatos desfilando ou marcar presença em paradas militares e desfiles estudantis. Muitos deles são bons cidadãos, mas outros buscam na política uma possibilidade de ganhar dinheiro, o que não é segredo para ninguém. Quando formos votar, daqui alguns dias, o melhor critério é votar em quem você conhece e não em promessas, por mais promissoras que sejam. A contento, será que nossos políticos entregam o dizimo de maneira verdadeira e santa? Acredito que o mal do grande número de políticos mergulhados nas trevas da corrupção e da má gestão dos bens públicos esteja no fato de não serem convertidos e não serem dizimistas. Apegados à vaidade e ao acumulo dos bens eles se perdem no egoísmo empanado pela mentira e pela falsidade. Não é possível ser um político coerente e santo se o coração não for aberto e o bolso também aos apelos de Deus. Então, o mal não é a política, mas a nossa má evangelização que não produz suficientemente homens e mulheres coerentes e livres, confiantes na semente de prosperidade, capazes de plantar as sementes da vida e da bondade social. Por não ter Jesus Cristo em suas vidas, tornam-se servidores da cultura da morte e dos maus costumes, lutando em favor desta mesma cultura que instiga a prática do aborto, a promoção do homossexualismo e a destruição da família. No mais (políticos à parte) rezemos pelo bem de nosso país, pelo nosso povo, e para que a independência seja marcada, todos os dias, pela segurança e pela paz em todas as cidades brasileiras. Que a semente de prosperidade caiam em nossos corações, em nossas famílias e no coração de nossa Pátria Amada, Brasil. Amém!
Dom Adair José Guimarães