NÃO CONCORDO COM O DÍZIMO: Padre José Ronnes dos Santos Santana

Ao longo da caminhada do povo de Deus no Antigo Testamento percebe-se, nas páginas da Sagrada Escritura, que a fé, a confiança no Senhor foi sendo construída gradativamente, lentamente. O ponto marcante foi a libertação do êxodo, desta experiência nasce uma Nova Aliança. Na Ceia Judaica é feito memória desse grande acontecimento: o mais novo (uma criança) pergunta a quem preside a Ceia: “Por que esta noite é tão diferente das outras noites? Nas outras noites comemos, conforme nosso gosto, hamets ou matsah, e hoje só matsah. Nas outras noites comemos todo tipo de verduras, e hoje só morar, erva amarga. Por que?”. E por meio de uma longa descrição faz-se memória do Êxodo, da libertação (cf. Êx 12,26-27; 13,8.14 e Dt 6,20).

Aos poucos os israelitas foram entendendo que este mesmo Deus que libertou foi o mesmo Deus que os criou, assim foram vivendo a fidelidade do Senhor, os seus preceitos e mandamentos. O Senhor, também, pede a seu povo que viva sua fidelidade a Ele através da devolução do dízimo: “Tragam o dízimo completo para o tesouro do Templo, para que haja alimento em meu Templo. Façam essa experiência – diz o Senhor dos exércitos. Vocês hão de ver, então, se não abro as comportas do céu, se não derramo sobre vocês as minhas bênçãos de fatura” (Ml 3,10). Em outra passagem diz: “Todos os dízimos do campo, seja produto da terra, seja fruto das árvores, pertencem ao Senhor. É coisa consagrada ao Senhor” (Lv 27,30) É um principio divino, preceito dado pelo próprio Deus ao seu povo e os israelitas seguiam rigorosamente. Como este mesmo povo, escolhido, libertado e amado por Deus, também, é pecador, em muitas ocasiões Deus recusava o dízimo e ofertas, pois não eram de coração: “O Senhor falou a Moisés: – Diga aos filhos de Israel que ofereçam para mim uma oferta. Aceitarei essa oferta dos que a fizerem de bom coração” (Ex 25,1-2).

No Novo Testamento descreve que as primeiras comunidades foram mais além, colocavam tudo em comum, dividindo seus bens com alegria (cf. Atos 2,42-47; 4,32-37). Nos Atos dos Apóstolos conta-se a “história” do casal, Ananias e Safira (cf. Atos 5,1-11), que usando de desonestidade com a venda de sua propriedade morreram diante dos apóstolos, provocando um “grande temor por toda a Igreja e entre aqueles que ouviram falar do que havia acontecido” (v. 11). A pertença à comunidade exige despojamento, entrega, fraternidade e partilha, atitude de desonestidade, mentira e corrupção não correspondem com a vida de cristão, portanto, como membro de uma comunidade de seguidores de Jesus. Para a comunidade reter é não se sentir membro e o que rege a vida em comunidade é o Espírito do Senhor, o espírito de comunhão.

Hoje a Igreja no Brasil vem incentivando a implantação e a reanimação do dízimo, vendo-o como uma pastoral, como um serviço do evangelho, não é simplesmente a captação de recursos para a Igreja. O dízimo, portanto, é ensinado como uma forma de viver a fé, de compromisso com a comunidade de oração, possibilitando a Igreja meios para continuar anunciando a pessoa e a mensagem de Jesus Cristo. Com certeza encontramos em nossas comunidades pessoas que não concordam com o dízimo e expressam claramente sua aversão. Alguns fatores favorecem a descrença no dízimo, exemplos: a má administração, o pouco esclarecimento sobre o que se faz com o dízimo, pouco incentivo do padre e lideranças, a falta de consciência cristã e de compromisso com a comunidade de fé, e tantos outros.

A Equipe da Pastoral do Dízimo e as demais lideranças poderiam realizar uma espécie de levantamento buscando nas pessoas, dizimistas ou não, se elas concordam ou não com o dízimo, quais os benefícios e limitações, assim teriam elementos para organizar um planejamento com ações mais seguras e práticas. Não concordar com o dízimo, a meu ver, pode ser um bom pressuposto de iniciar uma conversa e assim ajudar o irmão e irmã na compreensão e na expressão de sua fé. Porém, é lamentável, saber que existe membros do povo de Deus que discordam do dízimo. Que outro meio poderia ter mais eficácia de colaborar com a minha família Igreja a não ser o dízimo solicitado pelo próprio Deus?

Dízimo é conversão, é mudança de vida, é ter a certeza de que o Senhor nos concede tudo por sua infinita graça e eu por amor o devolvo. Perdão, Senhor, por sempre querer acumular e reter tudo, inclusive o que é seu!

 

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