Hoje eu poderia escrever este artigo relatando inúmeros argumentos que justificariam a devolução do dízimo. E todos eles embasados nas Sagradas Escrituras ou nas relações de direitos e deveres como membros da comunidade. Poderia destacar a importância do dízimo no sustento das obras sociais, no processo de catequese e evangelização, na santa missa e na eucaristia, na vivência dos sacramentos. Poderia, inclusive, entrar em detalhes sobre a contabilidade da paróquia e demonstrar a real necessidade de recursos para o pagamento das contas de água, luz, telefone, salários, impostos, etc… Mas não! Hoje não vou por esse caminho.
Primeiro, porque você, certamente, já conhece muito bem esses argumentos. Se já participou de alguma celebração ou de alguma pregação sobre dízimo, certamente esses argumentos todos já foram utilizados. E todos são bem verdadeiros, diga-se de passagem.
Segundo, por que dízimo é mais, dízimo é muito mais do que tudo isso. Se dízimo fosse somente para tratar de uma relação financeira entre as pessoas e uma instituição, neste caso a Igreja, será que Deus ocuparia tantas e tantas páginas da Bíblia, de Sua Santa Palavra, com esse assunto?
Um dia, no passado, já pensei que fosse assim, mas, hoje, tenho a certeza de que não. Deus não usa da Palavra para esses assuntos corriqueiros, a não ser para apontar a importância desses atos na construção de algo muito maior. Dar um prato de comida ao faminto é indicado por Ele como algo muito mais importante do que simplesmente saciar momentaneamente a fome de uma pessoa no mundo. É tornar real um discurso de amor, caridade, partilha e, com isso, permitir uma transformação em nossa vida e na vida do irmão. A Palavra de Deus vai sempre além do que nossos olhos podem ver. Por isso, é preciso lê-la também com o coração, com a alma.
No entanto, meus irmãos, o complicado disso tudo é que há, ainda, pessoas que não acreditam que Dízimo seja uma orientação bíblica. Ainda há quem acredite que dízimo é uma criação do padre que decidiu, de uma hora para outra, criar mais uma forma de arrecadação de dinheiro. Esses são casos bem difíceis, e não vou me ater a eles.
Mas, há também os que acreditam na Sagrada Escritura. Sabem que ali está a Palavra de Deus, mas, apegados às coisas do mundo, ao valor da matéria, não aceitam viver o comprometimento que Deus exige na atitude de doação, partilha, devolução através do dízimo.
“Vá, vende tudo o que tem e dá aos pobres”, disse Jesus ao jovem rico que pretendia ser salvo, porque “ninguém pode servir a dois senhores”. O dízimo é muito mais do que uma questão financeira; é uma atitude de fé.
Atualmente é fácil encontrar fontes de estudo sobre o tema Dízimo. Em qualquer livraria cristã encontramos inúmeros títulos que abordam o assunto sob os mais diferentes ângulos. Na internet, então, é até perigoso. Há tanta opinião sobre dízimo que há, também, muita desinformação, muita “besteira” que pode induzir a erros.
Por isso, eu pergunto: por que a Bíblia fala tanto em Dízimo? Será que Deus, assim como a grande maioria de nós, também é um ser extremamente preocupado com a falta de dinheiro, com as contas a pagar? Não, claro que não! É que o dízimo faz parte do projeto, é parte integrante do plano de salvação que Deus tem para toda a humanidade.
O dízimo está lá, ocupando páginas e páginas da Sagrada Escritura porque é célula viva da Palavra que é Vida e que dá a Vida: a Palavra de Deus. E essa Palavra é para sempre, é eterna. Nunca mudou e nem nunca mudará. Foi essa mesma Palavra para o início dos tempos, é a mesma Palavra hoje e permanecerá igualmente a mesma para todo o sempre. É para as pessoas de todas as épocas e de todos os lugares, igualmente, sem distinção, pois é Palavra de Deus.
E é nessa palavra imutável, eterna e divina que está contido o ensinamento divino sobre o dízimo. Portanto, dízimo não é invenção humana, é inspiração e desejo divino.
Então, pergunto novamente: o que é preciso para que possamos nos dizer cristãos? Já ouvi muitas vezes a orientação de que, para sermos verdadeiros cristãos é preciso que aceitemos o Cristo como verdadeiro Filho de Deus, nosso Redentor e Senhor.
Só isso?! Claro que não. Aceitar Jesus é mais do que discurso ou sentimento e emoção. É basicamente transformação e atitudes de uma vida nova, de acordo com o jeito de ser de Jesus. É ter Jesus como modelo e buscar, incansavelmente, se moldar a Ele.
Assim, em nenhum momento ser cristão é fruto de uma obrigação. Ao contrário, o que se espera é justamente a livre adesão, o exercício pleno do livre arbítrio. Ao conhecer Jesus e seus ensinamentos, decidimos viver como Jesus viveu e nos ensinou a viver.
E para que possamos, de fato, deixar que essa “vida nova” aconteça em nós temos que abrir nossa mente e nosso coração. Abrir nossa mente para conhecer a Palavra de Deus contida na Sagrada Escritura e abrir o coração para que o Espírito Santo nos dê o entendimento a respeito dessa Palavra.
Por isso, irmãos e irmãs, argumentos para provar a importância e a necessidade de se devolver o dízimo existem muitos. Pagar as contas, manter a estrutura do templo, custear os trabalhos de evangelização, custear a ação social, pagar os salários…, bom, tudo isso é consequência. Consequência de uma vida em comunidade, pois quando nos tornamos comunidade precisamos de uma estrutura e uma organização para viver. E, naturalmente, essa estrutura e organização demandam custos na sua sustentação.
Por isso, ser família, ser Igreja de Deus também exige estruturas físicas e de serviços que precisam ser mantidas por aqueles que se dizem membros dessa família. Mas, a Palavra de Deus aponta para além das necessidades materiais, uma vez que essas podem ser supridas de diversas maneiras. Aponta para o Dízimo, uma proposta de real comprometimento com a coletividade. Como Ele mesmo nos ensina em Malaquias: “Pagai integralmente o dízimo… para que haja alimento em minha casa”. O dízimo é alimento para o sustento da Casa do Pai, mas não como um prato de alimento ao mendigo. É sinal visível de nossa compreensão do plano de Deus, pois dízimo é, acima de tudo, partilha, fruto da livre e consciente adesão à Palavra de Deus.
É tudo isso… mas ainda é muito mais!