MAS DEUS NÃO QUER ISTO NÃO!

Nas CEBs – Comunidades Eclesiais de Base nós cantamos: “O mundo que a gente vive é cheio de divisão, mas Deus não quer isto não, mas Deus não quer isto não.

De um lado barraco caindo, de outro palácio subindo, mas Deus não quer isto não, mas Deus não quer isto não!”.
Acompanhando a notícia do incêndio em Manaus, lembrei-me deste canto das CEBs. E rezei: Mas Deus não quer isto não!
Fiquei inquieto e me perguntei diante de Deus: por que estas pessoas tinham que morar ali e naquelas condições? Por que algumas pessoas podem morar em lugares seguros e em casas bem protegidas e outras em barracos e palafitas? A resposta que me vinha era: Mas Deus não quer isto não!

Ao ver a SOLIDARIEDADE após o incêndio, num gesto bonito de compaixão por quem está sofrendo mais ainda do que sofriam, fruto da vivência da fé cristã nas mais variadas Igrejas ou simplesmente pelo espírito humanitário, fiquei inquieto e comecei a me perguntar: por que nós somos MUITO SOLIDÁRIOS nas catástrofes e nos momentos extraordinários e POUCO SOLIDÁRIOS no ordinário de nossas vidas? Por que deixamos acontecer um incêndio e atingir 600 famílias naquele bairro de Manaus, para nos fazermos solidários com elas? A resposta: Mas Deus não quer isto não!

Na Assembleia da Prelazia de Itacoatiara em fevereiro deste ano, na escolha das prioridades a maioria da Assembleia deixou de fora o SERVIÇO AOS POBRES. Confesso que esta decisão da Assembleia me deixou inquieto e afirmei que eu, como bispo, iria trabalhar para que nossas atividades na Prelazia fossem perpassadas pelo serviço aos pobres, como nos sugeriu o Padre Zenildo, Assessor de nossa Assembleia. Muitos irmãos e irmãs compreenderam isto, estiveram mobilizados para fortalecer na Prelazia a opção preferencial evangélica pelos pobres.

Ainda no contexto da Assembleia da Prelazia, alguém disse que Itacoatiara não tinha tanta pobreza. Isto me causou inquietação, já tinha conhecido as treze paróquias e umas trinta Comunidades urbanas, de estrada e ribeirinhas. Tinha visto muita pobreza. Fazendo a visita pastoral no decorrer de 2018 em três paróquias e visitando Comunidades para alguma atividade esporádica, vi muita gente vivendo na pobreza extrema. A indiferença para com os pobres não é evangélica. A resposta: Mas Deus não quer isto não!

Graças a Deus as Pastorais Sociais, aquelas que procuram ser SOLIDÁRIAS com os POBRES no ORDINÁRIO da vida de nossas Paróquias e Comunidades, estão se fortalecendo: Criança, Saúde, Carcerária, Sobriedade, Pessoa Idosa, GEV, DST/AIDS, Grito pela Vida. Tudo agora coordenado pela CARITAS da Prelazia, que nasceu no II Dia Mundial dos Pobres, dia 17 de novembro.

Que este DESPERTAR da SOLIDARIEDADE por causa da catástrofe de Manaus, possa continuar entre nós nas Paróquias e Comunidades de nossa Prelazia de Itacoatiara. Acolhamos como dirigidas a nós a recomendação feita a Paulo, “que nos lembrássemos dos pobres” (Gálatas 2, 10a). Que possamos dizer como Paulo: “Isso procurei fazer sempre, com toda a solicitude” (Gálatas 2, 10b).

Lembremos do ensinamento de São João Paulo II: “ A opção pelos pobres inscreve-se na própria dinâmica do amor, vivido segundo Jesus Cristo. Assim estão obrigados a ela todos os seus discípulos” (Exortação Apostólica sobre a Vida Consagrada, n. 82).

Ou ainda poderemos refletir o que nos diz o Papa Francisco: “Cada cristão e cada Comunidade são chamados a ser instrumentos de Deus a serviço da libertação e promoção dos pobres, para que possam integrar-se plenamente na sociedade. Isto supõe que sejamos dóceis e atentos, para ouvir o clamor do pobre e socorrê-los” (Exortação Apostólica “A Alegria do Evangelho”, n. 187).

Devemos ir além das consequências do incêndio de Manaus. Devemos nos perguntar pelas causas. Para assim sociedade civil e Igrejas buscarmos saídas para que outros incêndios não aconteçam, pois Deus não quer isto não!

Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira, SDV
Prelazia de Itacoatiara – AM

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