Os Padres sinodais (Sínodo sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja) lembraram: “Redescobrir a centralidade da Palavra de Deus na vida da Igreja significa redescobrir o sentido do recolhimento e da tranquilidade interior” ( Verbum Domini 66). Não se pensa aqui no silêncio daquele que se omite na tomada de posição diante dos fatos da história, que seria túmulo da alma, um silêncio criminoso. Uma tranquilidade autêntica requer empenho e não passividade, transparência e desejo de tomar distância de todas as formas de poder para dar espaço à Palavra que normalmente é grito profético, lamento e denúncia das injustiças. Jacques Attali afirma: “O mundo não se olha, se ouve, não se lê, se escuta”. Este é caminho da humanização. Há um silêncio desejado e necessário para que a semente da Palavra possa deitar raízes em nós.
Reflitamos ainda uma vez sobre o binômio silêncio e palavra. Se o diálogo se aprende, significa que, como qualquer arte, há diversidade de dimensões: a paciência, a pausa, os gestos que mudam a realidade e o mundo interior. Jesus viveu na prática esta dinâmica. Faz-se silêncio até ser Palavra emitida na cruz: “O Verbo emudece, torna-se silêncio de morte, porque se disse até calar, nada retendo que nos devia comunicar (…). No mistério refulgente da ressurreição, este silêncio da Palavra manifesta-se com seu significado autêntico e definitivo ( Dei Verbum 12).
De modo paradoxal a plenitude do significação se consegue apenas com a experiência do silêncio. No silêncio a vida se abre à esperança e se tem a convicção de que a injustiça não dirá a última palavra. “Fica em silêncio diante do Senhor e espera nele!” (Sl 37,7). No silêncio se acolhe os percursos do Mistério. O silêncio está unido ao amor quando não desejo ser peso e dominar. A mística hebraica fala de Simsun, quer dizer o afastamento ou silêncio de Deus com respeito à criação para que esta possa desenvolver livremente o mundo e exprimir-se. No silêncio exprime-se uma liberdade criativa.
Maria, no curso da vida cotidiana de Nazaré, guardava no silêncio de seu coração o sentido dos acontecimentos (Lc 2, 19.51), procurando compreender de maneira a mais cabal possível até que ponto a Palavra se fazia carne no concreto. A casa de Maria é a Palavra. Nela ela mora. A mãe de Jesus é eloquente paradigma para quem procura o equilíbrio entre silêncio e palavra, para quem busca acompanhar a maturação da história que foge aos nossos mecanismos de controle.
Para que a palavra da verdade se diferencie do ruído, como parece sugerir o relato de Elias à porta da caverna, é forçoso alimentar esta palavra com o devido silêncio, sem o que é impossível mensurar seu valor. Não é possível viver apenas na zoada do tumulto. Será preciso ter gosto pelo eremitério, cavar uma gruta de silêncio e contemplação em nosso dia de tanta correria, superficialidade, ilusão e mentira. Com a chega da Palavra no silêncio será possível inventar o novo e dar sentido à trama de nossa existência no mundo.