CARTAS NA MESA

O ciclo da vida é um eterno recomeço. Anos, meses, dias, horas. Há sempre nova expectativa pelo que virá depois, pelas surpresas que nos reservam as esquinas do futuro. Impacientes e ambiciosos, muitos até se esforçam para adivinhar “o que virá amanhã, como será o amanhã”… Crianças ingênuas! Nenhuma ciência é tão infantil e prepotente quanto aquela que se propõe a desvendar o futuro. Previsões, prognósticos, os nomes são claros. Um antecipa a visão, outro se põe ao lado da fé. Prefiro a verdade popular: “o futuro a Deus pertence”. Partindo desses princípios, nada mais hilária do que a leitura de certas “previsões” que se encontram com facilidade em veículos de comunicação, especialmente em época de mudança de ano. A grande maioria faz chover no molhado, isto é, joga com evidências e decurso natural dos fatos, que se sucedem dentro da lei das probabilidades. Por ex: época apropriada para fazer novas amizades. Existem épocas impróprias? Ou: cuide de sua saúde! Por que não? Ou: período instável com aumento da violência e insegurança sociais. Sem comentários! Horóscopos, então… Esses são campeões na arte de revelar o óbvio! De positivo, somente o estremado positivismo de suas entrelinhas. Pelo menos isso! Essa atração humana pelo obscurantismo, pelos mistérios, segredos… Quantas desilusões, decepções! A mais clássica e tétrica faz parte do Cenário do Gólgota. Logo após o assassinato do portador de toda verdade, a Verdade em pessoa, seus algozes resolveram lançar cartas sobre sua túnica. Quem teria a sorte, o privilégio de colocar sobre os ombros o manto do príncipe da Paz, o herdeiro universal do Pai de todos os mistérios? Quem apossar-se-ia dos mistérios e segredos que aquela túnica carregou, grudada à pele, ao suor ou como único agasalho contra longas e insones noites de inverno, que por certo marcaram a peregrinação do Messias entre nós? “Era uma túnica sem costura, feita de uma peça única, de cima até embaixo” (Jo 19,23). O véu do templo, do verdadeiro templo de Deus. Isso nenhum soldado percebeu… Depois, em missão pela Samaria, o apóstolo André consegue a conversão de um mágico, um certo Simão. Conversão emocional, pois que diante dos milagres que testemunhou, o velho mago oferece dinheiro a André para também ampliar seus poderes. Queria unir magia aos mistérios espirituais. “Arrependa-se dessa maldade e suplique que o Senhor perdoe essa má intenção que você teve”, foi o conselho do apóstolo (At 8,22). Eis, pois a única via da esperança cristã. Deus é a fonte de todos os mistérios, luz de todos os becos, face de todas as fases de nossa existência. Ontem, hoje e sempre! “Não se enganem, meus queridos irmãos: qualquer dom precioso e qualquer dádiva perfeita vêm do alto, desce do Pai das luzes, no qual não há fases ou períodos de mudança” (Tg 1, 16-17). Sejamos claros: cartas na mesa da realidade. Nenhuma ciência humana é capaz de desvendar o tempo futuro. Quando muito, arrisca palpites sobre o tempo da ciência meteorológica. E olha lá! Nossa esperança é que o futuro nos reserve, ao menos, a salvação que a fé nos oferece. “Na esperança, nos já fomos salvos. Ver o que se espera, já não é esperar: como se pode esperar o que já se vê? Mas, se esperamos o que não vemos, é na esperança que o aguardamos” (Rom 8, 24-25). Essa fé é luz e não se esconde, como cartas marcadas no jogo da vida. 20 anos de Palavras de Esperança – Publicado em 11 de janeiro de 2006

WAGNER PEDRO MENEZES
wagner@meac.com.br

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