Desatadora dos nós

“Meu amigo: Permita-me uma caridosa observação. Sou devoto de Nossa Senhora Desatadora dos Nós, cujo santuário em Campinas visito sempre que posso. Muitos nós da minha vida foram desatados pela mãe de Jesus, a quem recorro sob essa invocação. Ao ler o artigo Panetone com Arruda, percebo que o amigo incluiu essa devoção entre tantas e absurdas invocações ali citadas por certo tipo de católicos. Gostaria de uma explicação, pois é provável que o meu QI não tenha captado bem o enfoque. Grande abraço…” Não está em meus princípios deixar dúvidas no ar. Principalmente quando estas surgem de uma reflexão que faço. A preocupação do meu amigo acima, cuja fé conheço e admiro (evito citar seu nome por ética) poderia ser de qualquer outro leitor, pois que de fato citei uma devoção católica em meio a tantas crendices da fé popular. Foi proposital. O título escolhido, dentre outros mais de 2.000 títulos que damos a Maria, foi uma casualidade, o primeiro que me veio à memória. Poderia ser simplesmente Nossa Senhora. Como também Aparecida ou Imaculada ou de Praga ou da Penha. Não vem ao caso. O que me forçou a usá-lo foi a curiosidade que esse título desperta: Desatadora dos Nós. Surgiu na Alemanha, por volta de 1700. Diz a história que um sacerdote da capela de St Peter Am Perlach, de Aughsburg, pediu ao artista Johann Schmittdner um quadro de Nossa Senhora. Baseado numa citação de Santo Irineu (Sec. III), o pintor desenvolveu sua obra. Dizia a citação: “Eva atou o nó da desgraça para o gênero humano; Maria, por sua obediência, o desatou”. Eis porque a coloco entre tantos sinais da pequena fé popular. Não a mesclo, mas lhe faço uma súplica, pois só ela com seu coração de mãe para nos entender: Rogai por nós! Só Maria, intercessora e mediadora nossa, conhecedora das crendices, superstições e infantilidade daqueles que caminham contrários aos ensinamentos de seu Filho, é capaz de entender e reordenar o caos da espiritualidade humana. Desatadora, sim, dos nós proporcionados pelos pecados cotidianos, originários de Adão e Eva. . Estes nos impedem de conhecer com clareza o mistério da concepção divina em nossas vidas. Maria, que nos gerou a graça, tem a suprema autoridade de desatar os nós que dificultam a compreensão dos ensinamentos deixados por seu Filho. O mistério da Imaculada Conceição é simbolizado em suas imagens como uma faixa que lhe circunda a cintura. Um costume judaico que anunciava a gravidez de qualquer mulher. Também a gravidez da Virgem. No quadro aqui mencionado, o artista cuidou para que essa faixa fosse colocada nas mãos de Maria, só que cheia dos nós da nossa incompreensão e da indiferença humana diante dos mistérios. Pacientemente ela desata esses nós, um a um. Melhor observando a cena, veremos logo abaixo um homem e um cachorro, que se dirigem a uma Igreja. Dizem os estudiosos se tratar de uma referência a Tobias, cuja história nos apresenta o enigmático casamento deste com Sara, a viúva casada sete vezes e cujos maridos morriam na noite de núpcias. O romance entre Tobias e Sara só se consolidou quando este se dispôs a voltar para a casa paterna. Aqui encontramos alivio para tantos corações que ainda não compreenderam o perigo da incredulidade e do desrespeito ao mistério da concepção mariana. Sem uma volta à casa do Pai, atamos mais nós ao símbolo desse mistério, a encarnação do Verbo. Quando o mundo cristão compreender a importância desse simbolismo, quando confiarmos à Mãe um pouco dos dilemas que temos e de nossa insegurança no poder de sua intercessão materna, estaremos fazendo coro às vozes angelicais: “Bendito é o fruto do seu ventre”, Jesus.

WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br

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