ENTRE A LUZ E A ESCURIDÃO

O contraste entre dia e noite, sol e lua é conhecido por qualquer ser vivo. Todavia, dentre estes, nós humanos somos os únicos a temer as trevas e apreciar a luz solar. Tanto que se tornou um quase elogio a afirmativa que nos define como filhos diletos do Pai: Vós sois filhos da luz, não das trevas! Quem nos definiu com tamanha clareza de espírito outro não foi senão aquele que se autodefiniu como sendo ele próprio a luz do mundo. Não parou por aí, pois numa conversa com Nicodemos foi bem suscinto ao afirmar: “a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas ações eram más” (Jo, 3,19). Apesar dos temores, ainda preferimos as trevas. Contradição das contradições! O contraditório está na maledicência de muitas das nossas ações sorrateiras, às quais a doutrina cristã denomina como pecado. Acontece que o pecado saiu de moda, não mais é aceito pela filosofia libertina e libertária das teorias psicológicas que tentam dar razão a tudo que o ser humano faz em sã consciência. O problema é exatamente esse: a sã consciência. Basta a ideia de que sua liberdade é maior do que os freios da moralidade ou da religiosidade, para que uma ação pecaminosa seja praticada sem constrangimento algum. Então o mal deixa de ser mal, porque as trevas que o encobrem já não assustam tanto. Ou, como bem afirmou Jesus: “Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para que suas ações não sejam denunciadas” (Jo 3,20). Já não reconhece o mal que faz. O importante é tirar proveito de tudo, mesmo que isto prejudique um semelhante. Azar o dele, pois o que importa é o benefício próprio, o eu na centralidade do tudo. Isso é o egoísmo. Esse é o grande pecado social dos tempos modernos. A escuridão que vivemos. “Mas, quem age conforme a verdade aproxima-se da luz, para que se manifeste que suas ações são realizadas em Deus” (Jo 3,21). Aqui luz e trevas ganham um diferencial bem definido. Não há como ser luz e viver nas trevas ou ser trevas e manter-se na luz. “Não se esconde a luz debaixo da mesa”, diria Jesus, para ressaltar a importância dessa função para aqueles que fazem de suas vidas um farol, um guia luminoso por onde quer que marque presença. A revelação de Jesus a Nicodemos foi deveras alvissareira, motivo de muito júbilo e alegria, pois Deus enviava seu Filho “não para condenar, mas para salvar”. Daí a razão de tanto júbilo presente nas celebrações do quarto domingo da Quaresma, o Domingo da Alegria. Daí o porque do povo de Deus exultar-se com o anúncio da luz divina presente entre nós e em nós, através da nossa fé em Jesus, luz do mundo, espelho de Deus! Mas, principalmente, a descoberta pessoal de que também nos igualamos ao Cristo com nossa ação transformadora, nossa presença, nossa insignificância revestida da importância de fazer “brilhar” nossa luz em meio às trevas das incertezas humanas. ‘Que brilhe vossa luz no meio dos homens!”.

WAGNER PEDRO MENEZES
wagner@meac.com.br

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