A cada celebração ou festa mariana dentro do catolicismo fico a pensar sobre a rejeição que muitos cristãos têm pela figura materna de Maria. Contradição de criança birrenta. Não há como amar um filho sem ao menos admirar o ventre que o gerou, sua procedência filial e familiar. Jesus, Maria e José constituem o tripé do cristianismo, sobre o qual toda doutrina cresceu e amadureceu de acordo com os planos divinos. Portanto, cristianismo sem Maria – a mãe sem manchas – e sem José – o protetor sem mágoas – é órfão de pai e de mãe. Não pode ir muito além das aparências que encobrem sua triste orfandade. A visita de Maria a Isabel, contada em detalhes por Lucas (1, 39-56), é uma leitura que engrandece sobremaneira a figura de Maria no projeto da redenção. Lá está o Magnificat, o canto da alegria trazido à tona pela própria “mulher por excelência”, num processo de oração e gratidão a Deus pelas maravilhas que nela se realizavam. “Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar?”, exclamou Isabel ao sentir no próprio ventre o pulo de alegria do ainda embrião Batista, feliz pela ilustre visita que sua mãe recebia. Uma vida ainda fetal já reconhecia a presença de Jesus em sua casa! Profunda mensagem para os abortistas inveterados e inconsequentes! “Bendito o fruto do teu ventre”, reconheceu por primeiro Isabel, em cujo ventre o precursor de Jesus exultava de alegria pela missão que iria desempenhar logo mais: anunciar aos homens a chegada de um novo tempo, a vinda do Cordeiro de Deus. Tudo aqui se compraz no júbilo da maternidade. Tanto de Maria quanto de Isabel. A importância de ambas no processo da vinda messiânica está revestida da alegria e da aceitação. A oração proferida por Maria prova ser ela uma jovem conhecedora da Palavra. Não é um canto de exaltação pessoal, como muitos possam pensar, mas de submissão total aos planos de Deus. “Porque olhou para a humildade de sua serva”, diria em oração submissa. Não uma submissão passiva, conformada com seu destino, alheia aos acontecimentos à sua volta, porém agradecida e irradiante com as revelações do dia. “Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada”. A revelação do milagre em seu ventre era muito maior do que uma simples gravidez; nela crescia uma nova criação, um novo Adão iria restaurar o Paraíso Perdido pela infidelidade humana. Então, como não a aclamar como bem-aventurada entre todas as criaturas? “Porque o Todo-Poderoso fez grandes coisas em meu favor”. Nenhum outro ser humano mereceu as graças que Maria recebeu em vida. Quem somos nós para desmerecê-las? O Magnificat continua em suas loas e revelações, a ponto de profetizar a queda de muitos tronos, potestades e força dos poderosos que se levantaram e se levantam contra a fé cristã. Inclusive as grandes guerras que turvam nossa história. Inclusive as batalhas demoníacas que se levantam diuturnamente sobre nossa Igreja. Através de Maria e do fruto do seu ventre não há o que temer. A vitória será nossa, “conforme prometera aos nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência para sempre” (Lc 1-55). Quando, pois, alguém rejeitar o poder da Mãe do meu Senhor, não diga nada. Apenas reze, ore por essa criatura ainda órfã, que desconhece a força da mãe, a proteção, o afeto, o carinho, o zelo, a atenção, o amor sempre misericordioso e poderoso de que só as mães são capazes. Bendita és tu entre as mulheres! Bendito o fruto do teu ventre!
WAGNER PEDRO MENEZES
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