Missão – Quem é o missionário leigo? – Antoninho Tatto

Centenas de cartas já recebi de pessoas desejosas em desenvolver um trabalho missionário como leigas. Na grande maioria, trata-se de leigos com uma caminhada na Pastoral da Igreja. Nos últimos anos, tem aumentado muito o número daqueles que já não suportam ficar em estado passivo perante sua Igreja, vivendo sua vidinha de cristãos bem compromissados, sem mexer com a massa, sem ser fermento nela.
É um despertar que acontece dentro das comunidades Eclesiais, onde buscam “uma nova forma de ser igreja” . Ou seja, uma igreja onde cada um sente que pode e deve exercer o sacerdócio real de que nos fala São Pedro.

Constatamos, em mais de 20 anos de experiências, que à medida que o leigo é ouvido, orientado e valorizado, doa-se ao extremo para ver acontecer o Reino. Sai da participação passiva, de funcionário a custo zero para o padre, e parte para uma participação de vida em todas as situações da comunidade. São jovens e adultos que, unidos à luz do Evangelho, querem transformar as estruturas injustas que envolvem todos os membros da comunidade.
Dentre os que se comprometem na caminhada de construção dessa nota “forma de ser igreja” recuperando o rosto do passado, estão os animadores das comunidades. Escolhidos, são vistos como orientadores, coordenadores, líderes cristãos. A cargo deles está a responsabilidade de animar a todos na comunidade para que vivam comprometidos com a verdade, buscando a justiça. É seu dever também conscientizar, levar à união em torno dos objetivos comuns. É tarefa prioritária do animador. Como elemento que auxilia o padre da paróquia a coordenar todas as áreas da pastoral da comunidade, ele garante a continuidade dos trabalhos, na ausência do sacerdote.
Sua escolha pela comunidade baseou-se em seus testemunhos de fé em seus serviços junto à comunidade. Tendo surgido dela, é mais sensível aos seus problemas. O padre é o orientador, o coordenador espiritual: o animador é o exemplo do cristão leigo sempre presente para celebrar as angústias os desesperos e todos os momentos bons que acontecem a cada um.
Enfim, o animador é da comunidade para a comunidade. Faz já alguns anos que um novo tipo de colaborador surgiu na Igreja. São os missionários leigos, chamados a evangelizar. Não são consagrados, não pertencem à hierarquia da Igreja. São leigos com vida normal de estudo, trabalho, vida familiar, social, mas que não se contentaram só com isso: buscaram maior comprometimento na Igreja, fazendo uma opção de vida.
A evangelização é a opção. Cada um, utilizando-se dos dons que recebeu. Assim, existem hoje missionários leigos músicos, comunicadores, escritores, poetas, cineastas, artistas plásticos, catequistas, pregadores e tantos *****. Há os que se dedicam à pastoral da juventude trabalhando junto aos dependentes dos tóxicos e do álcool. A questão continua no ar. Quem realmente é o missionário leigo? Que faz de diferente de um agente de pastoral, de um animador de comunidade? Eu diria que, fundamentalmente, ambos evangelizam, ambos anunciam Jesus Cristo Libertador. Tanto um como outro, têm a preocupação de levar o povo a libertar-se dos preconceitos opressores e das instituições injustas.

Tanto o animador como o missionário sentem que, ser Igreja hoje, significa muito mais do que dizer amém. Descobriram que o amém é o resultado final, a conseqüência da participação. O amém sem participação, sem esforço somado, é alienação, é repetição oca, sem expressão de vida. Embora o animador e o missionário leigo tenham os mesmos objetivos e, muitas vezes, os mesmos espaços e instrumentos para evangelizar, há entre ambos uma grande diferença. A diferença está no comportamento de ambos.
O animador vive em função de sua comunidade, com visão para dentro dela. O missionário leigo vive para fora de sua comunidade. Olha sempre para fora. Sai de sua comunidade para evangelizar. Enquanto o missionário leigo é enviado pela sua comunidade para evangelizar os que não pertencem à comunidade, os que não participam da vida da Igreja, os que não crêem, o animador trabalha em seu ambiente, fortalecendo na fé os membros da própria comunidade: uma ação dentro de um determinado espaço, onde a maioria se conhece. O animador substitui o antigo colaborador, a zeladora, o rezador, somando novas tarefas, como presidir celebrações na ausência do padre, ser ministro da Eucaristia, do sacramento do batismo, do matrimônio, da unção dos enfermos. Não como uma espécie de “mini padre” que não é, e sim na qualidade de leigo revestido de um ministério.

O missionário leigo faz tudo isso: porém, fora da sua comunidade, ou seja, na comunidade para onde foi enviado, onde está como peregrino, provisoriamente. Na figura do missionário leigo, reflete-se a Igreja que caminha, que vai ao encontro de outras realidades. O missionário está permanentemente indo ao encontro das gentes desconhecidas para torná-las reconhecidas no juízo final, na grande hora do “vinde benditos de meu Pai”…
Pelo que é possível observar, os missionários leigos nascem nas comunidades, são frutos delas. Surgem de vários movimentos de Igreja. Desenvolvem-se em suas comunidades, amadurecem, escutam o chamado a uma vida itinerante, ou seja, a viver a nova vocação de missionários leigos.
O missionário representa, dentro da comunidade, o verdadeiro sentido da Igreja, que é abrir-se, estar sempre atenta e sensível a todos os povos, em todas as situações. É ele o elemento renovador da comunidade porque, ao ser enviado como missionário, leva consigo o sabor da comunidade que o envia, e deixa para trás a consciência de, que cada um é missionário, presente na missão que cumpre o enviado.
O missionário leigo é fruto de uma comunidade missionária. Partindo, ele é a expressão mais forte da consciência missionária da comunidade. É a manifestação da ação do Espírito Santo que anima aquela comunidade.
Quando tinha cinco anos, eu era coroinha numa dessas capelas do interior. O padre vinha celebrar missa algumas vezes ao ano. Para mim era sempre um grande dia. Depois de certo tempo, fui chamado pelo padre para ajudar como coroinha em outras capelas. Percebi, na época, que algumas catequistas acompanhavam o padre e o ajudavam na viagem. Todos nós estávamos a serviço do padre.
Nosso trabalho não tinha uma conotação de escolha, de opção de vida. Era uma ajuda dada ao padre. Hoje é diferente. O missionário leigo faz de sua missão uma opção de vida. Sente que é chamado, impelido pelo Espírito Santo a realizar um trabalho que é seu, que não se confunde com o do missionário consagrado. O missionário leigo vai evangelizar carregando seu dom. Sua evangelização vai acontecendo de acordo com o carisma de cada grupo ou de cada um isoladamente.
O missionário leigo não é, de forma alguma, alguém que, de repente, passa a falar de Jesus e seu Evangelho conforme lhe vem à cabeça. É um cristão que amadureceu na oração e no estudo e que, em sintonia com as autoridades da Igreja, na maioria das vezes sob a orientação de um sacerdote coordenador – o diretor espiritual – acompanha a caminhada da Igreja na linha de frente. O missionário leigo integra-se na pastoral da Igreja local, colabora com sua disposição.
O fato novo, hoje, embora girando dentro das diretrizes da Igreja, é que os missionários leigos estão surgindo por si só, em toda a parte, e começam a organizar-se no exercício do “múnus sacerdotal”. São leigos vivendo uma nova experiência dentro da Igreja: uma experiência de Igreja itinerante.

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