Faz mais barulho uma carroça vazia do que um caminhão com sobrecarga de peso. Essa lógica todos compreendemos bem. Quanto mais vazia, mais escandalosa é também nossa vida. Que se dirá, então, da vida espiritual daqueles que sequer percebem a necessidade de também alimentá-la habitualmente? Podem até terem a saciedade física, o fausto de muitos banquetes e vida boemia, a mesa farta e o estomago em plena atividade de digestão contínua, mas o coração, o espírito… ah! Quão famintos estão… Exatamente nesse grupo é que o murmurinho e as lamentações fazem mais barulho do que as pobres carroças vazias que circulam a seu lado. Muitos são os famintos ao redor, mas o grito de insatisfação se faz ouvir daqueles que mais recebem, que melhor se alimentam, que se dizem privilegiados num mundo de carências e injustiças múltiplas. Choram mais os que podem mais, quando o contrário seria mais lógico. Quanto maior é a incredulidade dos inseguros, mais sonoro é o burburinho entre eles. Foi o que constatou o próprio Jesus diante do diz-que-diz que se levantou entre os judeus, testemunhas do milagre da multiplicação, da lição contida na história do maná, o pão que salvou o povo de Deus naquela travessia histórica num deserto de contradições e incertezas e agora, na possível “blasfêmia” que Jesus pronunciava de ser Ele o “pão que veio do céu”. Não era ele o filho do carpinteiro? E a resposta vem como uma advertência: “Não murmureis entre vós”! (Jo 6, 43). O murmúrio é sempre um lamento diabólico, a voz gutural do Inimigo. É também a voz de todo aquele que não se abre à revelação da Palavra. “Está escrito nos profetas: Todos serão ensinados por Deus (Is 54,13)”. Evite, pois, a murmuração em sua vida. Ela é o primeiro passo para se alimentar a dúvida, a incredulidade. Antes, é preciso serenidade e coração aberto para se obter a graça do entendimento, um dom de Deus. É preciso uma experiência pessoal com o Cristo, maior comunhão com seus mistérios e revelações. Uma destas está aqui, nas palavras bem escritas e detalhadas pelo evangelista João. “Eu sou o pão da vida… Eis aqui o pão que desce do céu: quem dele comer nunca morrerá” (Jo 6, 48; 50). Ora, se seus conhecimentos já lhe bastam, se sua crença está alicerçada na tradição de uma herança histórica, se a fé que move seu coração ainda está atrelada à lógica da materialidade, se é difícil para você enxergar na simplicidade de um artesão humano a grandiosidade da obra divina, se o murmurinho teológico dos “mestres” de sua escola ironiza os absurdos revelados na escola de Cristo… paciência! Não temos muito ou quase nada a fazer por sua descrença. Que o Senhor tenha piedade! Mas, diante do barulho que um mistério provoca, há sempre um silêncio que ensurdece nossos ouvidos e aquieta os corações conturbados. Santo Silêncio! É este a voz de Deus a provocar uma revolução na mente e nos corações mais sensíveis, capazes de se deixar transformar pelas revelações da graça. Eis que o pão se faz carne entre nós e em nós. Esse é grande mistério eucarístico que sacia os famintos e dá vida ao mundo. Quando o maná do deserto caiu sobre o acampamento dos israelitas, a pergunta era: “O que é isso?” Hoje, quando contemplamos “o pão vivo, descido dos céus”, temos uma única resposta: “Quem comer deste pão, viverá eternamente”. Qual a dúvida?
WAGNER PEDRO MENEZES
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