Todo batizado é missionário – Antoninho Tatto

Esta é uma afirmação magnífica que encontramos no Vaticano II, que nos enche de alegria e esperança.
Alegria porque a Igreja oficialmente chama a todos, num gesto de confiança absoluta a evangelizar, a exercer, cada um de nós, a missão da Igreja ou seja, fazer com que Jesus seja conhecido e amado.
“Os leigos, porém, são especialmente chamados para tornarem a Igreja presente e operosa naqueles lugares e circunstâncias onde apenas, através deles, ela pode chegar como sal da terra”.
LG 33. Esperança porque, na medida em que a Igreja confia na atuação de cada batizado, dá-lhe o devido espaço e se preocupa em formá-lo para que exerça sua missão com eficiência.
Para fortalecer esta idéia, temos o projeto de Evangelização da Igreja do Brasil que diz: “O Projeto exige um grande número de novos evangelizadores e, portanto, requer sua preparação”.
Já é famosa a frase do papa João Paulo II em Santo Domingo, quando fala do “protagonismo dos leigos, na Nova Evangelização”.
É um chamado constante a ser missionário que começa pelo batismo e continua pela Igreja.
Mas é bom refletir sobre esta questão de que “todo batizado é missionário”.
Será que é mesmo?
Quem estuda engenharia, é engenheiro.
Escolheu uma profissão.
Buscou informações sobre ela.
Estudou tudo o que foi possível aprender com a experiência de ***** engenheiros, que vieram antes com toda uma história, culturas e modas que envolvem a área da engenharia.
Pode ver o quanto mudou no decorrer do tempo.
Tudo vai se modernizando, ficando mais fácil de fazer, e nem por isso mais fácil de aprender.
Exige empenho, muita dedicação. Mas no fim, um diploma, passaporte para exercer a função de engenheiro.
A principal ferramenta, a própria cabeça, a criatividade, o jeito pela coisa.
Outras ferramentas de menor importância, mas indispensáveis, completam o conjunto para realizar seus projetos.
Projetos grandes, pequenos, simples, importantes.
Todos nascidos de suas iniciativas e dedicação, vão completando um conjunto harmonioso na vida de um engenheiro.
Mas quantos engenheiros existem que, por uma razão ou outra, não exercem suas funções.
Quantos, engenheiros, desempregados, estão hoje atrás de um balcão de lanchonete ou em outras funções.
Há portanto engenheiro que não exerce a profissão.
Mas é engenheiro.
Todo batizado é missionário.
Como fica a questão quando o batizado não tem uma ação missionária?
Quando não dá conseqüência ao batismo que recebeu?
Quando não atua segundo a missão que recebeu no batismo?
Quando se omite?
“Evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade (EN).
Evangelizar é a essência, a razão de ser da Igreja.
Deve ser a razão de ser, a identidade de todo cristão.
E quando exerce sua tarefa evangelizadora é de fato missionário.
Quando não age segundo os princípios da Igreja em sua ação evangelizadora, o batizado deixa de ser missionário.
Missão é ação.
Não perde sua condição de missionário pois ela tem sua origem no batismo, mas perde seu poder transformador.
É o engenheiro atrás do balcão.
É a semente que não foi plantada, que foi comida.
O missionário é chamado por Jesus a fazer parte de um grupo especial, escolhido para santificar-se e santificar.
Uma vez escolhido, aceitando o chamado, o missionário é enviado, por Jesus, no “…Ide e fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.” Mt.28,19 e pela Igreja através dos tempos.
Como identificar este chamado?
Sem dúvida podemos identificar Jesus nos chamando através de nossa comunidade, quando ela é convidada pelo Bispo, pelo Padre, pelo animador da comunidade a participar de um encontro missionário.
Parece coisa simples, mas se reveste de um profundo significado.
Dentre tanta gente, nós fomos convidados, escolhidos.
Sentimos dentro de nós, naquele convite o “Vem e segue-me de Jesus a Pedro, Tiago, João…” E nossa reposta “Eis-me aqui Senhor.”
Quais são as conseqüências desta resposta?
Por que nós?
Porque somos missionários que compreendemos a razão de ser do missionário que é a razão de ser da Igreja.
E para correspondermos a esse chamado, a essa vocação, precisamos saber qual é a proposta da Igreja no seu projeto de Evangelização.
É para isso que nos reunimos: para recebermos formação missionária, para ajudarmos a realizar a Missão da Igreja, que é nossa missão.
Pelo batismo, recebe-mos todos os ingredientes necessários para correspondermos à grande missão: “Raça escolhida, sacerdócio régio…” (1a.Pedro 2,9).
Aquela promessa de Jesus “…Eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo…”(Mat 28,20) se realiza em cada um de nós que fielmente responde ao chamado.
Temos a certeza da presença e ação do Espírito Santo em nós quando exercemos nosso trabalho de evangelização em nossas comunidades ou onde somos por elas enviados.
“…Pelos frutos conhecereis as árvores…” (Lc 6,43-44).
Se constatamos mudanças nas vidas das pessoas, sabemos que o Espírito de Deus está atuando.
Como missionários devemos ter sempre em mente a figura de Jesus, seu modo de ser e agir.
Ao ser batizado Jesus, o Espírito Santo se manifesta Nele.
Ele recebe o Espírito Santo e inicia sua atividade, seu apostolado, sua vida pública.
Mas antes se coloca numa atitude de escuta, de oração no deserto.
O silêncio propicia a Jesus viver na interioridade com Deus, com o Pai.
Não há medo! Enfrenta o diabo! Vence as tentações (Lc 4,1-11). Segue em frente pronto para preparar um grupo de discípulos.
Enfrenta a morte!
Vence ressuscitando.
Na seqüência temos os discípulos reunidos em oração no cenáculo.
O Espírito Santo prometido vem e toma conta deles, arrancando-lhes todo medo, dando-lhes conhecimento e ardor para pregar.
É o Pentecostes!
Como os seguidores de Jesus, não há medo que os detenha e saem a anunciar a boa nova, a verdade, a justiça e acontecem as conversões.
Agora é a vida pública dos apóstolos que acontece, fazendo brotar a Igreja de Jesus, como Ele a quis.
E os apóstolos ficaram firmes na fé, anunciando, testemunhando, vivendo até as últimas conseqüências o compromisso que receberam de anunciar o Evangelho de Jesus.
E agora aqui estamos nós, nas mesmas condições, com o mesmo Espírito que nos anima.
O Papa nos convoca a evangelizar, com novo ardor, com novas expressões e novos métodos.
Ainda diz que nós, os leigos somos “…Os protagonistas da Nova Evangelização…”
O que é isso senão Jesus chamando claramente a cada um em particular e na intimidade nos dizendo “…Vem e segue-me…” “…Estarei contigo até o fim…” “… e o que te falo na intimidade anuncie sobre os telhados…”?
Aí a gente fica sem jeito, sem saber claramente o que responder, mas nos vem à lembrança o episódio daquele jovem que ficou entusiasmado com a proposta de Jesus e queria de todo jeito segui-lo e quis saber como deveria fazer.
Jesus amorosamente conversa com ele o orienta a deixar tudo por causa do Reino.
O jovem fica triste quando percebe que para seguir Jesus precisava abrir mão de coisas às quais está apegado (Lc. 18,18-30).
E nós? Como vamos resolver esta questão para sermos missionários.
Qual é o contato que temos com Jesus, de que forma Ele está presente em nós?
O cego, ao ser curado por Jesus, segue Jesus, gratificado a Deus.
(Lc 18,35-43) O paralítico ao ser tocado por Jesus sai pulando e proclamando as maravilhas de Deus.
A Samaritana no poço de Jacó conversa com Jesus e sai anunciando a todos que o Messias estava no meio deles (Jo 4,1-30).
Quantas lembranças poderíamos trazer aqui para continuarmos nossa reflexão!
E mais uma vez pergunto: E nós que faremos? Nós que recebemos a graça de Deus de sermos tocados por Jesus, pelo Batismo, e mais ainda, chamados, para fazer parte de seu ministério, nós temos o direito e o dever de fazê-lo conhecido e amado.
Em nós não há nada que nos impeça.
Fomos agraciados com o dom da fé.
O que Deus espera de nós é que sejamos fiéis e agradecidos.
São Paulo nos lembra: “Anunciar o Evangelho, não é glória para mim: é uma obrigação que se me impõe Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho” (I Cor. 9,16)

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