UMA CASA DE COMÉRCIO

A preocupação está posta desde o início do cristianismo. Há aqui um profetismo de Jesus acerca do futuro de sua Igreja: “Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio (Jo 2, 16).Tanto que foi esse um dos raros momentos de impaciência e quase agressividade de Jesus ao expulsar aqueles vendilhões do Templo com um chicote às mãos. O chicote que o diga! Os que negociavam as ofertas (bois, ovelhas e pombas) às portas do Templo se viram momentaneamente prejudicados com aquela intervenção inesperada. A ação intempestiva e as duras palavras de Jesus contra o comércio que ali praticavam alertou as consciências mais sensíveis pela contradição de seus atos. Aproveitavam-se da fé popular para dela obterem lucro. Exploravam a ingenuidade daquele povo… Nada diferente dos dias atuais! Mas não é bom generalizar. Há muitas e honrosas exceções! Nem sempre o aspecto financeiro dentro do ambiente religioso foi uma atitude meramente mercantilista ou de cunho oportunista por parte daqueles que cuidam das necessidades espirituais do povo de Deus. Há que se diferenciar estes, daqueles. As necessidades primárias para sustentação do culto e daqueles que se consagraram ao serviço do altar sempre existiram. São obrigações dos que se beneficiam desse serviço. Das doze tribos de Israel, uma tinha a função sagrada de servir e cuidar única e exclusivamente da questão litúrgica e espiritual de tudo o que se realizava no Templo. Era a Tribo de Levi, a família sacerdotal do povo de Deus. Mas, para tanto, era preciso que as demais tribos cuidassem das necessidades primárias desta casta de consagrados, não só no aspecto das necessidades básicas, como também em todas as questões relacionadas ao templo e à manutenção do culto. A estes se destinavam os dízimos e ofertas do povo. Nada mudou desde então. As comunidades de fé continuam obrigadas a fazer frente a essas necessidades, ao sustento daqueles que tudo renunciam para servir ao altar do Senhor. O que acontece é o oportunismo de alguns que veem nesse serviço um meio de ganho fácil, de enriquecimento ilícito, de realização de falcatruas e ou negociatas com a fé popular… Então Jesus aprofunda a questão, ameaçando com a destruição do templo, de tudo, para uma edificação renovada, em três dias apenas. Seus ouvintes nada entenderam e viram nessa afirmativa uma questão de demência. “Quarenta e seis anos foram precisos para a construção deste santuário e tu o levantarás em três dias?” (Jo 2,20). Eis no que resulta a ignorância na fé e a opinião daqueles que não conhecem as belezas dos mistérios cristãos. Dentre eles a ressurreição. Dentre eles o templo de Deus que nos tornamos. Dentre eles a ação do Espírito em nossas vidas, que aceita e consagra nossas ofertas como sinal de gratidão a Deus por tudo que dele recebemos, temos e somos. Nessa perspectiva, nossos dízimos e ofertas nunca serão objetos de comércio ou negociata com Deus, mas sim canais extraordinários de graças e bênçãos. Deixemos de lado a opinião mundana. Nessa relação de fé o que importa não é a quantidade do que temos para oferecer, mas a qualidade de nossos gestos de amor e responsabilidade para com as coisas e as causas de Deus. Se temos mais, se somos agraciados com dons e talentos maiores dos que os de muitos irmãos, temos sim que participar mais, contribuir com mais, fazer nossa parte sem nos preocuparmos com o julgamento e a opinião do mundo. O que importa é que Jesus conhece “o homem por dentro”!

WAGNER PEDRO MENEZES
wagner@meac.com.br

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