Se é verdade que o caminho estreito é que leva ao céu, então podemos imaginar que Rio Branco do Ivaí, no centro do estado do Paraná, está em território do Paraíso.Depois de deixarmos a rodovia principal, iniciamos uma viagem por estradas que vão se tornando cada vez mais estreitas. Tanto que o motorista do ônibus onde eu estava, por vezes precisou parar para facilitar a passagem de caminhões que vinham em sentido contrário. Em alguns trechos era comum vermos placas indicando: “Cuidado, Gado na Pista”. Sim, pois a criação de gado leiteiro e de corte é uma das principais atividades econômicas da região.
Aliás, aqui se verifica um dos problemas do município, já que a pecuária exige grandes extensões de terra, o que significa menos gente na zona rural. Municípios como Rio Branco do Ivaí viveram períodos de êxodo da população rural para outras cidades maiores em busca de melhores condições de vida, o que nem sempre se torna uma realidade. Para a maioria dessas famílias, acostumadas unicamente com o trabalho no campo, as cidades tem pouco a oferecer e, grande parte delas engrossa os contingentes de moradores em situação de risco e de pobreza nas grandes cidades.
Após o desembarque no ponto final do ônibus (Rio Branco não conta com uma rodoviária), fomos levados ao encontro do padre Roman que, naquele momento, celebrava a missa da noite. De origem polonesa, padre Roman Ceglarski (Romano para nós, brasileiros) me acolhe carinhosamente e, ao final da celebração, faz as primeiras apresentações, convocando todos para o encontro de formação a ser realizado na tarde do dia seguinte.
Mal sabia ele que o encontro não aconteceria. O município estava vivendo, pela primeira vez, a oportunidade de ter um padre residindo ali. Antes, os padres que atendiam à paróquia vinham de outras cidades somente para a celebração da missa. Padre Roman assumira a paróquia há poucos meses. A implantação da pastoral do dízimo foi uma das prioridades, tanto no sentido de evangelizar, quanto de despertar o senso de responsabilidade de cada um para com a sustentação da Igreja e sua efetiva participação. Mas, o processo de formação da equipe não estava concluído e a equipe não estava ainda montada. Também não haviam estudado os materiais enviados anteriormente. Isso tudo, somado a outros problemas relacionados à questão administrativa, começaram a mostrar seus sintomas já no dia seguinte.
Na manhã do sábado, arrumamos o salão, preparamos tudo para o encontro com a slideranças da paróquia. Esse encontro de formação para líderes é o marco principal do trabalho que acontece na comunidade. Em seguida, acontecem as celebrações da Partilha, na qual a Palavra e os ensinamentos são dirigidos a toda a comunidade.
No horário marcado, poucos apareceram. Ora, sem lideranças, não há encontro de formação. Sem encontro de formação, não há como dar continuidade ao trabalho. E lá fomos nós para uma reunião de emergência com o padre. Preocupado em não realizar a missão programada e tão aguardada, mas também ciente dos riscos de se fazer mal feito, padre Roman aceitou uma mudança nos planos.
Fizemos uma reunião com as cerca de 20 pessoas que se encontravam ali. Cada uma delas se pronunciou apoiando a decisão e se comprometendo em levar a notícia às suas comunidades de origem. Convocamos um grupo de 12 pessoas de confiança do sacerdote e, em reunião, analisamos o caso. Todos se comprometeram em visitar as comunidades, fortalecer as equipes da pastoral do dízimo e preparar uma nova missão para dali a alguns meses.
Naquele final de semana, visitamos as comunidades e, durante a celebração, explicamos a situação, pedimos orações de todos e convocamos as lideranças para apoiarem o sacerdote e a nova equipe responsável pela condução dos trabalhos. Distribuímos o material básico de estudo sobre a formação da pastoral do dízimo para que a equipe estudasse e, assim, na segunda-feira, após uma experiência vivificadora da ação do Espírito Santo que conduziu nossos passos naqueles dias, padre Roman me levou até o ponto de ônibus para regressar à minha casa.
Em nossa despedida, um momento do qual jamais me esquecerei. Padre Roman, na sua absoluta humildade e consciência da missão que eu, leigo, ali desempenhava em nome de Cristo, me disse: “-Senhor Odilmar, eu só lhe peço uma coisa: que o senhor me dê a sua benção”. Sem me dar tempo para dizer que eu é que precisava da benção dele, abaixou a cabeça à altura do meu peito e, impelido pelo Espírito, invoquei a benção de Deus sobre aquele sacerdote que, tão longe da sua terra e de sua família, vivia a experiência de ser um verdadeiro servo de Deus junto aos irmãos.
Mais uma vez um missionário do MEAC comprovou que, quando o trabalho de pregação sobre o dízimo não se realiza conforme programado, é porque Deus preparou uma outra missão para aquela comunidade.
Dois meses se passaram. Continuamos em contato via internet e, na semana passada, padre Roman me ligou. “-Senhor Odilmar, a equipe que o senhor ajudou a montar trabalhou muito bem. Tudo está resolvido e estamos preparados para o senhor voltar e realizar o trabalho conosco”. Com a graças de Deus, a partir do dia 13 de agosto, aquela comunidade pequena, à qual só se chega trilhando caminhos estreitos, poderá viver também uma experiência maravilhosa ao descobrir as grandes riquezas que a Palavra de Deus nos reserva com os ensinamentos do dízimo e da oferta.