O dízimo é uma restituição a Deus

Ele era contra o dízimo e hoje é um dos seus mais ardorosos propagadores. Ao longo de quase 30 anos de atividades como missionário leigo, realizou trabalhos de conscientização e organização em mais de 4 mil comunidades no Brasil, nos Estados Unidos e no Peru. Trata do assunto com objetividade e clareza nos onze livros que escreveu. Um deles, “Dízimo e Oferta na Comunidade”, conta já com 2,5 milhões de exemplares.

Arautos do Evangelho: Como nasceu sua vocação de “Apóstolo do Dízimo”?

Antoninho Tatto: Antigamente eu era contra o dízimo e qualquer outra forma de participação na Igreja. Sou de família pobre, sem facilidades econômicas, e um fato acontecido em minha infância deu-me uma visão deturpada do sentido de colaborar com a Igreja. Daí nasceu um “bloqueio”. Muitos anos depois, tornei-me administrador de empresas, quer dizer, passei a auxiliar empresários a resolver problemas financeiros e administrativos. Em determinado momento, comecei a observar as dificuldades econômicas pelas quais passava a Igreja, e me questionei: “Deus me deu o dom, a capacidade de ajudar pessoas no campo financeiro. Não será minha obrigação ajudar também a Igreja na situação em que ela se encontra?” Mas deparei-me então com aquele “bloqueio”… Eu não queria contribuir e, sobretudo, não queria concordar com a obrigação do dízimo.

Esse problema atinge muitos outros católicos. E como o senhor o resolveu?

Bem, o assunto ficou girando em minha cabeça, e resolvi consultar alguns padres amigos a esse respeito. No caso de decidir-me a colaborar, eu queria saber quanto deveria dar. Mas as respostas não me satisfaziam.Segundo me parecia, a percentagem estabelecida pela Pastoral do Dízimo era muito elevada. Infelizmente, é assim: quando uma pessoa não está conscientizada, qualquer quantia, por menor que seja, sempre parece exagerada…

Ocorreu-me, então, fazer uma pesquisa na Bíblia sobre a questão. O que diz a Sagrada Escritura a respeito do dízimo? Comecei a ler, a tomar notas e a fazer curtas reflexões. Deus começou a agir, e os textos bíblicos foram aparecendo e me impressionando.

Daí lhe veio a decisão de se tornar apóstolo do dízimo?

Na realidade, a pesquisa preparou a hora de Deus, a hora da graça. Eu fui pregar numa comunidade, numa favela, e ali ouvi alguns testemunhos de pessoas pobres. Essa experiência levantou em mim algumas questões.

Eu estava com o assunto ainda não resolvido quando em certo momento vi uma viúva muito pobre fazer uma oferta, de um valor bem pequeno. E fiquei bastante constrangido, pois era a mesma quantia que eu tinha dado.Imediatamente pensei: “Se essa viúva tão pobre contribuiu com esse valor, com quanto deveria eu ter contribuído?” 
Aí dei-me conta de que minhas pesquisas me haviam feito conhecer tudo sobre o dízimo, mas eu não tinha a consciência sobre a importância do dízimo, como acontecia com aquela senhora. Entendi então que o apelo para ser dizimista era mais profundo: não basta conhecer, é preciso amar.

E assim o senhor iniciou o caminho…

Nas coisas de Deus não há coincidências. Existe, isto sim, a misericórdia, a Providência Divina.
Procurei minha esposa e lhe propus de sermos dizimistas. Ela sugeriu darmos dez por cento de nossa renda. Respondi que não era possível, pois a doença de nossa filha exigia de nós um gasto muito considerável. Assim, apesar de ela insistir, começamos colaborando com três por cento. Passados poucos meses, percebemos que aquele valor não nos fazia falta, e podíamos cuidar de nossa filha com a mesma atenção de antes. Elevamos, pois, nossa colaboração para dez por cento. Nesse mesmo mês, nossa filha curou-se! 
Fico emocionado ao relatar esse caso, e creio que Deus permitiu tudo isso pelo fato de eu ser tão contrário ao dízimo, e que seu grande propósito era o de levar-me a dar esse testemunho.
Não foi nada, não foi ninguém que mudou a minha vida, ou me transformou em dizimista. Foi Deus quem me converteu.

O senhor está focalizando a questão do dízimo muito mais sob um aspecto espiritual que financeiro.

Sim! Eu até costumo dizer que a Pastoral do Dízimo não foi feita para resolver os problemas financeiros das paróquias… Claro, para isso existem o marketing e vários tipos de ajuda. Dízimo não é arrecadação financeira; é ação pastoral, quer dizer, um trabalho de evangelização para todos se sentirem mais Igreja. Se essa campanha não tiver esse objetivo, torna-se meramente financeira.

A proposta da Igreja Católica é que, através da participação de cada pessoa, a comunidade se fortaleça e testemunhe a fé. Por isso, quem não dá o dízimo, não está sonegando dinheiro que deveria dar à Igreja. Está sonegando a fé! Dinheiro pode ser mandado para qualquer lugar, o dízimo não; e essa é a grande diferença entre dízimo e dinheiro. Para dar dinheiro, basta tê-lo, mas o dízimo é uma expressão de comunidade, supõe a fé.

E esse apostolado tem produzido bons resultados?

Sem dúvida. A proposta tem sido facilmente assimilada, e impressiona ver comunidades com grandes dificuldades que, depois da ação pastoral do Apostolado do Dízimo, passam a ter grande desenvolvimento. E a principal razão disso é a mudança no modo de ver a comunidade. Antes ela não significava nada para as pessoas, e, após a evangelização desse Apostolado, passa a integrar a vida delas.

Há pouco estive em Moçambique, onde encontrei uma situação de muita necessidade. Porém, em 24 anos de Apostolado do Dízimo, eu nunca tinha visto uma abertura tão grande da parte dos fiéis como nesse país. Foram dez dias de missão, com encontros de uma participação espetacular. Naquela extrema pobreza, colhi testemunhos como estes: “Agora sinto orgulho de minha Igreja”. “Nós nos afastamos de Deus, e agora temos oportunidade de retornar de forma responsável”. “Jamais tinha pensado no dízimo a não ser como instrumento de arrecadação, e vejo agora que é uma bênção para nossa Igreja e para nós, do povo”.

Qual o significado mais elevado do dízimo?

Durante muitos séculos deixou-se de lado essa questão, mas ela é profunda e importante: o dízimo expressa a gratidão a Deus, pois nós precisamos nos reconhecer sempre devedores d’Ele, uma vez que nada nos pertence, somos apenas administradores.

Nessa condição, temos dois caminhos: amá-Lo ou rejeitá-Lo, sermos bons administradores ou simplesmente ficarmos com tudo. Sermos fiéis ou infiéis. É a Parábola dos Talentos. Colocar a mão no bolso é muito simples quando se tem dinheiro; mas por convicção, por amor a Deus, não é fácil. É preciso fazer uma violência, e esta se torna aprazível quando a pessoa constata que Deus é maravilhoso, pois nos concede muito mais do que Lhe damos.

São Paulo diz: “Que é que possuis que não tenhas recebido?” (1 Cor 4, 7).O dízimo é, então, uma devolução, uma restituição.

Por pe. Caio Newton de Assis Fonseca

Revista Arautos do Evangelho, Out/2006, n. 58, p. 32-33

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