Uma das alegrias maiores de um semeador é sua colheita. Do missionário também. Mas raramente é dado ao missionário o prazer de saborear um fruto da messe onde trabalha, já que nessa a colheita não lhe pertence, mas sim ao dono da vinha, o Senhor da Messe. Todavia, ouso aqui afirmar que Deus me deu essa graça.
Convidado que fui a refletir com o grupo da Pastoral Arquidiocesana do Dízimo, em Londrina, PR, cheguei ao local com uma hora de antecedência. Enquanto aguardava, fiz uma caminhada pelas proximidades do bem cuidado Centro de Pastoral daquela cidade e acabei ajoelhado diante do Santíssimo na Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora. Ali estivera há exatos 18 anos, também com a missão de evangelizar sobre o Dízimo. Lembro-me com detalhes daquela missão, quando um grupo bem motivado e disposto a encarar o desafio que lhes trazia, assumiu pra valer aquela pastoral. Rapidamente tornou-se comunidade modelo na arquidiocese, em especial por levarem a sério o aspecto da dimensão social que a pastoral propunha. Não só cuidar das necessidades religiosas, paroquiais. Não só das necessidades do templo. Mas também e principalmente do templo-vivo que somos e por conseguinte das necessidades do irmão mais empobrecido, através de uma ação social mais responsável e solidária. Tão bem captaram esse desafio que o trabalho social ali desenvolvido tornou-se um documentário em emissora de TV da região. Está no nosso site.
Mas esse não era o fruto que saboreava agora. Saindo da igreja, em direção à sala de palestras, eis que um panfleto no chão despertou minha curiosidade. Abaixei-me para pegá-lo – o que raramente o faço em via pública – porque sua estampa era realmente irresistível: a foto e o formato de um tijolo de construção. Como não observar tão curioso panfleto? No verso, a surpresa: “O Dizimista é ‘Pedra viva valiosa aos olhos de Deus’(1Pd 2,4) Como membro de um grande ‘edifício espiritual’ (1Pd 2,5), é operário e construtor da obra do Senhor”. E, concluindo: “Pastoral do Dízimo! 18 anos construindo a obra de Deus nas dimensões religiosa, social e missionária. Parabéns a todos os que fazem parte dessa história de amor e solidariedade”.
Seria esse o fruto que agora saboreava? Não, ainda não. Na sala de palestras encontrei um auditório repleto de representantes da maioria das paróquias da região. Grande parte dos presentes já conhecia o trabalho do MEAC, que realizou naquela arquidiocese um verdadeiro mutirão de conscientização e organização da pastoral. Nesse desafio estive inserido, durante vários meses, em companhia de vários outros irmãos missionários do MEAC. Mas não retornava ali para colher resultados…
O padre que me convidara, coordenador da Pastoral Arquidiocesana do Dízimo, foi a surpresa. Iniciou minha apresentação àquela assembléia da seguinte forma: “Talvez o Wagner não se lembre, mas o conheço desde minha quase infância. Lembro-me perfeitamente dele, de sua esposa e filhos, quando, trinta anos passados, foram pregar num retiro espiritual em minha cidade. Talvez venha dali minha vocação, minha opção sacerdotal. De certa forma, as palavras que eles nos dirigiram no passado despertaram em mim o meu sacerdócio…”
Obrigado, Pe. Olívio Gerônimo, por esse seu testemunho. Ali não estava para ouvir, para ter a vaidade aviltada pela contemplação de frutos, pela avaliação das qualidades da semente que Deus colocou em nossas mãos. Obrigado, Senhor, por repartir com um pobre operário um pouco das alegrias de sua colheita, sempre farta, generosa, abundante, providencial. Não. Não será o balanço positivo de trinta anos de pregações, nem os quarenta anos de existência do Meac que nos fará cruzar os braços e soltar rojões. Mas sim a visão da messe sem seus frutos, sem o sabor da colheita tão prodigiosa que às vezes deixamos ao relento, não preservamos.
WAGNER PEDRO MENEZES wagner@meac.com.br