Trabalhando na implantação da pastoral do dízimo na cidade de Quatro Pontes (PR), tinha o domingo à tarde todo de folga, pois não estava programada nenhuma missa para aquele período.
O Wagner, outro missionário do MEAC trabalhava na paróquia São Francisco de Assis, em Toledo, e com muitas celebrações para aquele dia.
Então, como manda o senso de irmandade e o amor que nos une no MEAC, fui ajudá-lo e escalado para atuar em duas celebrações, a última delas às sete e meia da noite numa comunidade ainda nova.
Naquela noite, pela primeira vez a celebração aconteceria no salão recém construído e que, havia poucos dias, recebera o piso e a cobertura.
Dia 28 de junho e um frio intenso. Quando chegamos lá, entendi porque uma das lideranças havia dito: “tomara que não chova”. É que o barracão ainda não tinha as paredes: havia os pilares, o teto e o piso.
O vento soprava por todos os lados. Sequer as velas conseguiam ficar acesas. Calculei que cerca de 300 pessoas já estavam no local e muitas ainda estavam chegando. Grande parte delas trazendo as próprias cadeiras.
Crianças, jovens, adultos e idosos mostravam uma satisfação imensa em estar “inaugurando” a sede nova da comunidade. O padre André “batizou” de Centro Comunitário Nossa Senhora Aparecida.
A missa iniciou com a entrada da imagem de Nossa Senhora. Do altar, eu observava as pessoas se protegendo como podiam do vento gelado. Ao mesmo tempo em que me preocupava com eles e temia que muitos começassem a sair durante a missa, não podia deixar de perceber com que atenção absorviam a pregação daquela noite.
Mesmo contra as orientações mais básicas da Celebração da Partilha, abri espaço para algumas outras manifestações, pois era dia de festa para eles.
Uma hora e 20 minutos depois encerrávamos a celebração. Nenhum deles arredou o pé
Lembrei de quantas catedrais já visitei, igrejas com poltronas individuais, algumas até com ar climatizado para maior conforto dos fiéis.
Ali, o que aquecia aquelas pessoas era o amor. Amor a Deus e à comunidade.
Era o início de uma vida nova para aquelas pessoas. O padre brincou que não dava para fechar as janelas, porque antes seria preciso levantar as paredes.
Ali não havia ainda uma igreja templo construída, mas, sim, uma igreja comunidade, povo de Deus, corpo de Cristo.
Lembrei da frase de um bispo gaúcho que dizia: construir um templo é muito fácil, mas construir uma comunidade é que é difícil.
A primeira missa daquela nova comunidade foi justamente a celebração da Partilha, com a reflexão profunda sobre o dízimo e a oferta.
Ao final da missa, com a motivação do sacerdote, as pessoas demonstraram o seu carinho por mim com uma enorme salva de palmas.
Eu não podia fazer muito mais. Sorri, levantei os braços e agradeci a Deus pela fé daquele povo que, unido, mesmo com grandes dificuldades, está construindo a verdadeira Igreja de Deus, a verdadeira comunidade.
Enquanto os aplausos chegavam ao meu ouvido, olhando bem para os rostos sorridentes à minha frente, pensei: “É, e eles pensam que eu vim aqui para ensinar, mas na verdade, vim aqui para aprender”. E a lição foi muito linda.
Não tenho dúvidas de que o dízimo vai ser um dos alicerces daquela comunidade, pois eles provaram que entendem bem o sentido da palavra partilha.